Cotidiano

Cunha renuncia à presidência da Câmara se vencer na CCJ, dizem aliados

BRASÍLIA — Apesar de terem aconselhado o presidente afastado Eduardo Cunha a renunciar à presidência da Câmara como forma de salvar seu mandato de deputado, aliados dele afirmaram nesta terça-feira que ele só deve fazer isso, se vencer na CCJ. Ou seja, se ele conseguir com que a maioria dos deputados da comissão acatem o recurso que apresentou questionando pontos da tramitação do processo contra ele no Conselho de Ética, que recomendou a cassação de seu mandato. Os aliados de Cunha apostam que o parecer de Ronaldo Fonseca (PROS-DF) acatará pontos levantados pela defesa, como o impedimento do relator Marcos Rogério (DEM-RO).

— Se ganhar na CCJ, ele renuncia à presidência (da Câmara) — afirmou um de seus aliados mais próximos.

A negociação para garantir a vitória de Cunha na CCJ tem se dado com partidos do Centrão e passaria pela eleição do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), para o mandato tampão de Cunha, que termina em fevereiro do próximo ano. De acordo com esse aliado, Cunha teria até agora 31 votos na CCJ para aprovar seu recurso. Para vencer, no entanto, são necessários pelo menos 34 votos. Os aliados de Cunha acreditam que o relator Renato Fonseca acatará o recurso contra o trâmite no conselho, o que faria o processo voltar à estaca zero.

Enquanto se nega a renunciar ao mandato, Cunha obriga o governo Michel Temer a se movimentar porque o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), tem agido de forma errática, cancelando sessões de votação e prejudicando os interesses do governo. Gestos como o de de Temer em receber Cunha para conversar e o do presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), de escolher o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF) para relatar o recurso de Cunha foram vistos como “solidariedade silenciosa” a ele.

Mas peemedebistas avisam que não há como garantir a vitória na CCJ, que para isso Cunha terá que trabalhar com os demais aliados. O líder do PMDB, Baleia Rossi (PMDB-SP) afirma que não substituirá integrantes da CCJ a não ser que seja a pedido deles próprios. O PR fez substituições para garantir apoio a Cunha. No PTB esta também seria a disposição, segundo petebistas, mas a estratégia será questionada também internamente na bancada.

PONTOS QUESTIONADOS POR CUNHA

Uma das principais apostas de Cunha é questionar o impedimento do relator, Marcos Rogério (DEM-RO). O relator pertence hoje ao partido que integra o bloco de partidos do PMDB, por isso não poderia ter relatado. Mas, quando foi escolhido relator, Marcos Rogério pertencia ao PDT e só mudou de legenda este ano. Mas também são questionados outros pontos, como cerceamento de defesa quando houve novo relatório preliminar e a votação com chamada nominal no parecer de mérito que pediu a cassação do mandato.

Marcos Rogério rebate e afirma que, tecnicamente, não há razão para anular o que foi feito no Conselho de Ética.

— Não há razão para arguir o impedimento do relator porque a aferição se dá no momento da escolha e eu era do PDT. E os outros argumentos também não se sustentam. Não há razões técnicas para anular qualquer ponto da tramitação — afirmou Marcos Rogério.

No jogo de forças políticas, os adversários de Cunha calculam ter 37 votos para rejeitar o recurso, a não ser que novas trocas de integrantes sejam efetuadas. Para garantir apoio, os partidos aliados de Cunha trocaram integrantes de suas legendas na CCJ. As principais trocas foram feitas pelo PR, que tirou todos os deputados que se declararam abertamente a favor da cassação de Cunha.

DEPUTADO QUESTIONARÁ DECISÃO DE LACRAR O VOTO DE FONSECA

A decisão de Fonseca de entregar o relatório e não divulgar seu conteúdo irritou integrantes da CCJ. O deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE) questionará na Mesa Diretora da Casa a decisão de manter sob sigilo o parecer apresentado nesta terça-feira.

Gomes apresentará nesta tarde em plenário questão de ordem argumentando que todos os atos das comissões temáticas, principalmente a CCJ, devem ter publicidade e transparência.

Fonseca recorreu à prática adotada no Conselho de Ética de lacrar o voto e só anunciá-lo no momento da leitura durante a sessão.