SÃO PAULO. O ex-deputado Eduardo Cunha poderá ser ouvido pela segunda-vez na Lava-Jato para contestar as acusações feitas pela força-tarefa da Lava-Jato. O pedido para que Cunha preste depoimento foi apresentado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, pela defesa da jornalista Cláudia Cruz, mulher do ex-deputado, que também é acusada na Lava-Jato por lavagem de dinheiro, por ter usado recursos depositados numa conta na Suíça, não declarada ao Fisco no Brasil. Os advogados da jornalista afirmam que o ex-deputado mencionou fatos que interessam diretamente à defesa de Cláudia Cruz e, portanto, deve ser ouvido também no processo movido contra ela.
No último dia 7, Cunha prestou depoimento a Moro e afirmou que tem aneurisma cerebral, assim como a ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva, e corre riscos na prisão. Disse ainda que o presidente Michel Temer participou de uma reunião com a bancada do PMDB para discutir a nomeação do diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Zelada. Ele disse que foi comunicado da reunião por Temer e por Henrique Alves e que o encontro era uma resposta às nomeações de nomes indicados pelo PT, como o de Graça Foster, para a Diretoria de Gás, e José Eduardo Dutra ex-presidente do PT], para a presidência da BR Distribuidora.
Na última sexta-feira, Moro negou pedido de liberdade feito pela defesa de Cunha. No despacho, disse que, mesmo preso, Cunha continuou a usar de chantagens e ameaças e que o ex-deputado tentou intimidar e constranger o presidente Michel Temer e provavelmente buscava “provocar alguma espécie intervenção indevida da parte dele (Temer)” a seu favor.
Cunha é acusado de receber US$ 5 milhões de propina na compra, pela Petrobras, de um campo petrolífero em Benin, na África, que causou prejuízo de pelo menos US$ 23 milhões à estatal. Parte deste valor, segundo a força-tarefa do Ministério Público Federal, foi destinada a uma conta secreta na Suíça, usada por Cláudia Cruz para pagar cartões de crédito com despesas feitas no exterior, principalmente produtos de luxo.
Os advogados de Cunha arrolaram Temer como testemunha. O presidente respondeu por escrito e disse desconhecer a participação do então deputado na compra do campo de Benin. Moro vetou perguntas endereçadas a Temer e relacionadas ao advogado José Yunes, que teria recebido parte de uma propina de R$ 10 milhões da Odebrecht, segundo delação de executivo ligado à Odebrecht. Para o juiz, o assunto não estava relacionado ao processo e teria sido mencionado para intimidar e constranger o presidente.