Cotidiano

Crise terminal na Venezuela é oportunidade para Brasil

O Brasil deverá apoiar a proposta de diálogo apresentada pela Argentina para tentar superar a crise política na Venezuela. Trata-se de uma alternativa à posição do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que invocou a Carta Democrática Interamericana para obrigar o presidente Nicolás Maduro ao diálogo, sob a ameaça de suspensão do país da entidade, e convocou uma reunião entre os dias 10 e 20 de junho para tratar o assunto. Além disso, a proposta da Casa Rosada vem num momento em que setores militares emitem sinais de clara insatisfação com o presidente venezuelano, alimentando temores de um golpe.

A proposta argentina defende a continuidade das negociações iniciadas na semana passada, na República Dominicana, sob coordenação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Na ocasião, representantes do governo de Maduro e da oposição se encontraram, em reuniões separadas, com uma comissão de mediadores, liderada por três ex-presidentes ? José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana) e Martín Torrijos (Panamá). A proposta, que visa a buscar uma solução ?de comum acordo?, tem o apoio dos EUA, entre outros países, como Honduras, México e Peru, e incluiria outras frentes de negociação que surgiram na arena política venezuelana.

Maduro aproveitou o pedido de Almagro, com quem vem trocando farpas há meses, para reforçar a retórica da intervenção externa nos assuntos internos da Venezuela e convocou a população a resistir. ?Sou alvo dos ataques das oligarquias do mundo e suas marionetes?, reagiu Maduro. Balela.

O presidente da Venezuela também prometeu levar à Justiça o líder da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, por ?traição? e ?usurpação de poder?. O poder de Maduro, porém, se enfraquece aceleradamente mediante o colapso das estruturas sociais, econômicas e políticas do país, numa uma crise sem precedente. Além da maior inflação do planeta, a população vive uma escassez generalizada de remédios, alimentos, água e energia elétrica.

A crise na Venezuela é uma oportunidade para o Brasil enfim exercer um papel consequente na Venezuela. Se antes o país mantinha uma postura alinhada ideologicamente às nações bolivarianas, ignorando violações de direitos humanos pelo governo de Caracas, agora, com José Serra no Itamaraty, adota uma posição mais profissional e independente. Com isso, o país poderá ter um papel condizente à estatura de sua liderança regional, auxiliando na busca de uma solução negociada. Indagado sobre a proposta da OEA e a alternativa argentina, Serra afirmou que o Brasil analisará as propostas, mas favorece um entendimento que leve a uma resolução urgente. É a melhor postura.

Diante da desintegração do país e os sinais potenciais de insurgência nos quartéis, seria um desastre para o povo venezuelano sair de um regime autoritário para uma ditadura militar.