BRASÍLIA – A crise mais aguda em 2016 não poupou o setor de telecomunicações, que até o ano passado havia conseguido manter em níveis praticamente estáveis o número de clientes, os investimentos e a receita bruta. Em termos nominais, a receita das teles caiu 2,3% no ano, até setembro, para R$ 170 bilhões, segundo o Sinditelebrasil, entidade que reúne as operadoras. Os investimentos caíram mais: 10%, para R$ 17,2 bilhões.
Segundo Eduardo Levy, presidente do Sinditelebrasil, o cenário levou a uma seleção maior dos investimentos por parte das operadoras. Para ele, as incertezas econômicas e políticas estiveram muito altas, afetando a decisão das companhias – vale lembrar, ainda, que a maior companhia do setor, a Oi, entrou em recuperação judicial no ano.
? A incerteza é a maior inimiga dos investimentos ? disse Levy.
Segundo ele, apesar da situação de encolhimento do setor de 2016, a aprovação pelo Congresso da nova Lei Geral de Telecomunicações, as iniciativas do governo com desoneração da internet das coisas, a percepção dos novos prefeitos que veem a necessidade de expansão da infraestrutura, entre outros fatores, podem fazer com que 2017 seja melhor.
? O cenário financeiro é ruim, mas o econômico é bom ? disse o presidente, diferenciando o curto prazo do médio e longo prazos para o setor.
Para Levy, outro fator que poderá fazer com que as empresas aumentem seus projetos para o futuro em 2017 é a conversão de multas com órgãos públicos em investimentos. Mas, para isso avançar, disse ele, é preciso se criar uma ?saída política?. Em reportagem do GLOBO publicada nesta quinta-feira, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, disse que o governo quer promover uma articulação para destravar os acordos desse tipo.
? Todos têm sua razão nas contas que fazem (ao converter multas em investimentos) ? disse Levy, explicitando a necessidade do diálogo.
A Sinditelebrasil revelou que a receita média por usuário das teles já iguala o que é pago pelo consumo de dados e pelo uso de conversas comuns. Há cinco anos, a proporção era de que a cada R$ 1 de receita com dados, as empresas recebiam R$ 4 com voz. Isso mostra, segundo ele, a necessidade de expansão maior da banda larga.
Mesmo assim, no ano passado, o número de acessos à banda larga no país caiu 1,6%, para 223 milhões. A queda é concentrada na telefonia móvel, agravada pela redução do número de aparelhos com mais de um chip ou da necessidade de as pessoas terem mais de um número, por conta da redução nas cobranças diferenciadas entre celulares de teles diferentes.
Por isso, o número de aparelhos celulares caiu 10%, de 274 milhões para 248 milhões no ano passado. As linhas fixas também caíram, mas menos. O recuo foi de 6%, para 41 milhões de clientes. No ano mais agudo da crise até agora, também caiu o número de assinantes de TV, mas apenas 2%, para 18,9 milhões. Todos os dados se referem a outubro.