BRASÍLIA – O Conselho Curador do FGTS se recusou nesta quarta-feira a votar o balanço do FI-FGTS (fundo de infraestrutura, criado com recursos do Fundo dos trabalhadores), que registrou em 2015, pela primeira vez, prejuízo de quase R$ 1 bilhão. Boa parte do resultado negativo se deve à baixa de R$ 1,87 bilhão com calote nos investimentos na Sete Brasil (fornecedora de sondas para a Petrobras), citada na operação Lava Jato. Por lei, o FI deve perseguir uma rentabilidade minima de 6%, mas no ano passado houve uma perda de 3%.
Até então, os Conselho Curador vinha aprovando o balanço anual do FI-FGTS, sem maiores problemas. Desta vez, representantes dos trabalhadores e empregadores levantaram dúvidas sobre a necessidade do grupo aprovar as contas, que também precisam passar pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU). Também influenciaram os conselheiros as declarações do ex- vice presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, em delação premiada, de que houve pagamento de propinas na liberação de projetos do FI, pelo comitê de investimentos do qual Cleto fazia parte.
? Houve um questionamento de ordem jurídica ao Ministério do Trabalho sobre a necessidade de o Conselho Curador aprovar o balanço do FI. Também pedimos maiores esclarecimentos à Caixa sobre as operações do Fundo, diante das investigações – disse o presidente da Confederação Nacional de Serviços, Luigi Nese, acrescentando que o assunto deverá ser analisado numa próxima reunião.
Além da provisão para calote com investimentos na Sete Brasil (fornecedora de sondas para a Petrobras e citada na Lava Jato) de R$ 1,87 bilhão no ano passado, o FI já havia dado baixa com de R$ 188,2 milhões no balanço de 2014, referente a investimentos na mesma empresa. Outros prejuízos se referem à Energimp, geradora de energia eólica controlada pelo grupo argentino Impsa, que está em recuperação judicial. Também houve baixas com queda nos ativos em empresas, nas quais o FI tem participação, como a Brado Logística, sócia da transportadora de contêineres, América Latina Logística (ALL), dentre outras.
De acordo com o balanço do FI, o patrimônio líquido do Fundo caiu de R$ 31,8 bilhões em 2014 para R$ 30,9 bilhões em 2015. Do montante total de investimentos de R$ 21,6 bilhões, R$ 4,118 bilhões estão em empresas envolvidas em investigação pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato.
Criado em 2007, no bojo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o FI tem a missão de investir em setores de infraestrutura (portos, rodovias, ferrovias, setor elétrico, hidrovias e saneamento). No período, foram investidos R$ 22 bilhões do lucro do FGTS nesses setores.