Cotidiano

Conselheiro de Trump acusa Alemanha de manipular câmbio

lONDRES – Um dos principais assessores do presidente americano Donald Trump acusou a Alemanha nesta terça-feira de usar uma taxa de câmbio para o euro ?grosseiramente depreciada? para ganhar vantagem competitiva sobre os Estados Unidos e a Eurpa, o que gerou comentários críticos da chanceler alemã Angela Merkel e levou o euro ao maior nível frente ao dólar em oito semanas.

Peter Navarro, chefe do novo Conselho Nacional de Comércio dos Estados Unidos, afirmou o jornal ?Financial Times? (?FT?) que o euro seria uma espécie de ?marco alemão implícito? cuja baixa valorização deu à Alemanha uma vantagem sobre os Estados Unidos e parceiros europeus.

Os comentários do conselheiro de Trump vem em meio a preocupações em torno da perspectiva para o comércio global diante das recentes medidas anunciadas peloa governo americano, como a saída e reformulação de importantes tratados comerciais.

O euro subiu fortemente ao maior nível em oito semanas frente ao dólar, a US$ 1,08, distante da mínima em 14 anos de US$ 1,0339 atingida este mês. A divisa tinha caído quase 25% durante os três anos anteriores.

MERKEL: ALEMANHA NÃO INFLUENCIA NO EURO

Merkel afirmou que a taxa de câmbio do euro é de responsabilidade do Banco Central Europeu (BCE), cuja independência sempre foi defendida pelo governo alemão:

? A Alemanha é um país que sempre pediu ao Banco Central Europeu (BCE) que busque uma política independente, assim o Bundesbank (BC alemão) fez antes do euro existir ? disse Merkel em uma coletiva de imprensa em Estocolmo com o primeiro-ministro sueco Stefan Lofven.

Aqueles que sustentam que o euro está desvalorizado geralmente culpam a política monetária flexível do BCE, incluindo trilhões de euros em compras de ativos, voltadas para estimular a inflação e o crescimento na zona do euro. O Federal Reserve (Fed, banco central americano), por outro lado, começou a elevar as taxas de juros do país após níveis mínimos pós-crise financeira de 2008.

? Por causa disso, nós não influenciaremos no comportamento do BCE. E, como resultado, não posso e não quero mudar a situação que está ? disse Merkel. ? Além disso, nós nos esforçamos para comercializar no mercado global com produtos competitivos em comércio justo com todos os outros.

Navarro disse que a vantagem comercial da Alemanha na Europa é um dos principais obstáculos para um acordo entre UE e EUA, conhecido como Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento. Enquanto (TTIP em inglês) o governo americano busca arranjos comerciais bilaterais às custas de acordos multinacionais, Navarro chamou o TTIP de ?acordo multilateral com muitos países sob um ?teto??, segundo o jornal.

?Um grande obstáculo para ver o TTIP como um acordo bilaterla é a Alemanha, que cotinua a explorar outros países como a União Europeia e os Estados Unidos com um ?marco alemão implícito? que é grosseiramente depreciado?, disse o conselheiro de Trump ao jornal. ?O desequilíbrio estrutural alemão no comércio com o restante da Europa e dos EUA destaca a heterogeneidade econômica dentro da UE?.

Uma porta-voz do Ministério das Finanças da Alemanha disseram que era injusto discrimar o atual superávit de contas da Alemanha (8,7% de produção econômica no ano passado), já que era o único país entre os 19 do bloco econômico. A autoridade defendeu o ponto de vista da chanceler.

? As expecatativas para taxa de juros e o impacto resultante na taxa de câmbio é algo sobre o qual o governo alemão não pode influenciar ? disse a porta-voz Tanja Alemany. ? Claro que é óbvio que uma baixa taxa de câmbio contra o dólar torna nossos produtos mais baratos no exterior, o que tende a impulsionar exportações.

Os cortes de impostos propostos por Trump, planos de despesa fiscal e a elevação dos juros americanos fortaleceram o dólar mundialmente. Mas uma moeda forte ameaça a competitividade americana e tornaria difícil a criação de empregos industriais aos Estados Unidos ? promessa-chave do presidente americano.

? Sentimos que a política do dólar forte acabou, é uma coisa do passado ? afirmou Neil Jones, chefe de vendas de fundos de hedge na Mizuho em Londres. ? A recente preocupação dos EUA em torno do dólar forte versus a China agora passar para a zona do euro com esses comentários de um euro depreciado.