Em um discurso de posse marcado pelo tom nacionalista e de ataque à classe política, Donald Trump cometeu deslizes similares aos que já havia apresentado durante a campanha presidencial. O novo presidente dos EUA tocou em pontos sensíveis, como o avanço do terrorismo e os investimentos nas Forças Armadas, mas foi impreciso em comentários mais acalorados.
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Trump: “Os empregos que foram embora, as fábricas que fecharam… A riqueza, confiança e força do nosso país desapareceu no horizonte”.
Fatos: A economia dos EUA apresenta mais saúde do que o retrato pintado por Trump. Houve aumento na oferta de empregos por um recorde de 75 meses consecutivos. A taxa de desemprego dos EUA estava em 4,7% em dezembro, próxima a um recorde de nove anos e de um patamar considerado como “emprego completo” pelos economistas.
De julho a setembro de 2016, a economia cresceu a um ritmo de 3,5% ao ano, o mais rápido em dois anos. Em 2015, a renda média por domicílio cresceu 5,2% e chegou a U$ 56,5 mil, o maior crescimento anual em quase cinco décadas, de acordo com o Census Bureau, que integra o Departamento de Comércio dos EUA.
Trump: “Nós estamos defendendo as fronteiras de outras nações enquanto nos recusamos a defender a nossa própria fronteira”.
Fatos: Desde 2001, os EUA mais do que dobraram o número de efetivos na Patrulha de Fronteiras, que contabilizam agora 20 mil agentes. A grande maioria está baseada na fronteira com o México, onde mais de 400 mil pessoas foram apreendidas em 2016 até o encerramento do ano orçamentário, em setembro.
Trump: “(Os EUA deram) Subsídios a exércitos de outros países enquanto permitiu esta muito triste depreciação das nossas Forças Armadas”.
Fatos: Embora tenha passado por quedas de receitas, o aparato militar dos EUA permanece como o mais avançado e caro do mundo. O gasto militar do país é três vezes superior ao da China, segunda colocada no ranking, de acordo com o Instituto de Pesquisas pela Paz de Estocolmo.
O Pentágono reconhece a necessidade de investimentos adicionais, incluindo mais embarcações navais, a renovação da frota aérea e maiores orçamentos de treinamento das tropas.
Trump: “Nós reforçaremos velhas alianças e formaremos novas, e uniremos todos os civis ao redor do mundo contra o terrorismo islâmico radical, o qual nós erradicaremos por completo da face da Terra”.
Fatos: A coalizão internacional liderada pelos EUA começou a combater terroristas islâmicos antes mesmo do 11 de setembro. No Afeganistão, por exemplo, a coalizão luta há mais de 15 anos como forma de evitar que a Al-Qaeda e outros grupos recuperem terreno.
Conseguir manter o apoio de países aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pode se mostrar um desafio diplomático para Trump, que chamou a organização de “obsoleta” e disse que os membros europeus não estão arcando com uma faixa justa dos custos.
A ameaça representada pelo extremismo religioso cresceu nos últimos anos. O Estado Islâmico despontou com alcance global, e foi ligado a ataques nos EUA, na França, na Bélgica, na Turquia e em países no norte da África.