Cotidiano

Cientistas criam besouro com terceiro olho no topo da cabeça

RIO — Por meio de engenharia genética, cientistas da Universidade de Indiana, em Bloomington, nos EUA, criaram por acaso um besouro com três olhos. O objetivo do estudo, publicado nesta semana no periódico “Proceedings of the Royal Society B”, era observar as mudanças no inseto com o desligamento de um gene específico em uma espécie de besouro com chifres do gênero Onthophagus, também conhecidos como escaravelhos. O animal resultante apresentou diversas mudanças na cabeça, como a perda do chifre — uma estrutura evolutiva recente usada por machos no combate por fêmeas —, assim como o crescimento de olhos compostos num local completamente inesperado: no topo central da cabeça.

O experimento também foi realizado em outra espécie do gênero Tribolium, conhecidos como besouros de farinha. Apesar da proximidade evolutiva, a alteração bizarra não foi observada nesses insetos.

— Nós ficamos assombrados pelo fato de o desligamento de um gene não apenas desligou o crescimento do chifre, mas também ligou o desenvolvimento de estruturas muito complexas, como os olhos compostos em um novo local — disse Eduardo Zattara, pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade de Indiana e coautor da pesquisa. — O fato de não acontecer no Tribolium é igualmente significativo, pois sugere que o gene adquiriu uma nova função: direcionar a formação do chifre apenas na cabeça dos besouros com chifre.

O gene selecionado para o experimento foi o OTD, que contribui para o desenvolvimento da cabeça desde simples invertebrados a mamíferos complexos. Se o OTD for apagado, a maioria dos embriões dos animais não desenvolve a cabeça ou o cérebro. No estudo, o gene foi desligado em larvas dos besouros. Dessa forma, os pesquisadores descobriram que o OTD encontrou uma nova função, de reorganizar o desenvolvimento da cabeça durante o processo de metamorfose.

— Esse estudo fornece a solução para um importante problema no desenvolvimento da biologia evolucionária — disse Zattara. — Para um gene carregar uma nova função, ele precisa encontrar uma forma de estar ativo no momento e no local exato. Mas é difícil encontrar uma razão para um gene se tornar ativo em um novo contexto, sem carregar consigo alguma função importante.