RIO ? Uma professora do sertão paraibano vem causando impacto
na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Aos 47 anos, Jonilda Ferreira transformou a pequena cidade de
Paulista em uma potência na competição. Em dez anos, ela já levou 14 ouros, nove
pratas, 39 bronzes e 112 menções honrosas com seus alunos ? somado, o número de
premiados chega a 1,5% de toda a população de pouco mais de 11 mil habitantes do
município. Jonilda
estará na mesa Protagonismo, no dia 24 de setembro, no encontro internacional
Educação 360.
? Nossos alunos são muito carentes de oportunidade.
Então, colocar sonhos na cabeça deles é o primeiro passo. A partir do momento em
que há um objetivo, tudo fica mais fácil ? explica Jonilda, que começou o trabalho para atrair os
estudantes dos anos finais do ensino fundamental à sua disciplina: ? A
matemática tem uma rejeição entre o alunado em geral. Então, fui usando métodos
mais atrativos, aulas mais dinâmicas, mostrando a realidade. Queria que eles
vissem até que ponto usam a matemática no dia a dia.
A Obmep foi
criada em 2005 pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) para
estimular o estudo da disciplina no país todo e revelar talentos nessa área. Por
ano, o evento distribui 500 medalhas de ouro, 1.500 de prata, 4.500 de bronze e
até 46.200 menções honrosas.
? O projeto Obmep deu
muito certo, acredito nele. Em um ano a gente se dá bem, no outro, menos e,
depois, melhora. Paulista foi premiada em todas as edições até 2015. Em 2016,
estamos aguardando o resultado ? diz Jonilda.
A Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga é a principal de Paulista. No
ano passado, recebeu verba do governo federal e ganhou computadores novos para a
sala de informática. Mas ninguém chegou a usá-la: no fim de semana seguinte à
entrega, ladrões levaram todos os aparelhos. Mas nada desanima a professora
campeã. A escola criou um projeto no contra-turno para preparar os estudantes para a
Obmep. No auge do trabalho, reuniam-se quatro
vezes por semana. Com o sucesso na competição, Jonilda passou a trabalhar também na cidade de
Campina Grande, a quase quatro horas de distância de Paulista. Agora, a
preparação é de só um dia por semana com três horas de aula.
? Mas ainda é pouco. Dou aula para eles, e estamos tentando outra pessoa para
ajudar. Neste ano, não deu. Talvez, em 2017 ? conta a professora, que está
treinando atualmente 46 estudantes.
Acima de tudo, criatividade
Jonilda
extrapola os limites da sala de aula. A pizzaria é cenário para a aula sobre
fração. A explicação sobre proporção acontece dentro da cozinha enquanto se faz
um bolo. Já no supermercado, os estudantes treinam adição e subtração a partir
da compra da cesta básica mais em conta. O lema da professora é
criatividade.
? Quero mostrar aos meus alunos que existe um mundo lá fora. Esses meninos
não estão acostumados a sair daqui. A Olimpíada traz essas oportunidades. O
desempenho deles abre portas para bolsas em escolas particulares. Já temos
vários alunos bolsistas. Vão para Recife, Campina Grande, João Pessoa, Pato ?
conta Jonilda: ?
Fui na semana passada a uma premiação em Campina Grande e levei 24 alunos que
nunca tinham saído de Paulista. A viagem foi uma felicidade imensa para
eles.
A professora só faz jogo duro na hora de revelar como vai
ser sua participação no Educação 360. Diz que vai mostrar o projeto, mas não
abre o jogo com detalhes.
? Tem que ter novidade na hora (risos). Fico muito feliz
por eles. Querem ser engenheiros, médicos, enfermeiros, professores de
matemática (risos). São, agora, pessoas com perspectiva.
*do Extra