Cotidiano

Chefe da ONU chama resolução contra Israel de exemplo de liderança

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NOVA YORK ? O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse que a resolução aprovada na sexta-feira pelo Conselho de Segurança ? que exige o fim das atividades e assentamentos por Israel nos territórios ocupados palestinos ?é um passo significativo que demonstrou a liderança necessária na organização. A medida só foi aprovada porque os EUA não usaram seu poder de veto, quebrando sua longa tradição de atuar como um escudo diplomático para Israel. Para o chefe da ONU, esta é uma prova dos esforços coletivos da comunidade internacional de reconfirmar a visão de que dois Estados são necessários para solucionar as tensões na região. No entanto, a resolução já gerou críticas de Israel e promete elevar as tensões nas Nações Unidas ? sobretudo em 2017, com a chegada do republicano Donald Trump, que criticou a postura adotada pelo governo americano, à chefia da Casa Branca.

O chefe da ONU, que em breve será substituido pelo seu sucessor, o ex-premier português António Guterres, ainda pediu que palestinos e israeleses trabalhem para permitir a volta à mesa de negociações. As Nações Unidas, disse, apoiariam todas as partes envolvidas para atingir este objetivo.

“A resolução é um passo significativo, demonstrando a liderança muito necessária no Conselho (de Segurança da ONU) e os esforços coletivos para reconfirmar que a visão de que dois Estados ainda é alcançável”, afirmou, em comunicado, Ban.

Aprovada por 14 votos a favor e uma abstenção, a resolução foi a primeira do Conselho de Segurança sobre Israel e os palestinos em quase oito anos. É a primeira vez em 36 anos que a ONU aprova uma medida contra as colônias. Israel criticou a decisão e afirmou que não a acatará, criticando o que considerou uma conivência americana.

“Israel rejeita esta decisão anti-israelense vergonhosa das Nações Unidas e não a acatará”, disse um comunicado do gabinete de Netanyahu. “O governo Obama não só falhou em proteger Israel contra essa conspiração na ONU, mas colaborou nos bastidores. Israel espera trabalhar junto com o presidente eleito Trump e com nossos amigos no Congresso, tanto republicanos quanto democratas, para anular os efeitos nocivos desta resolução absurda.”

PRESSÃO DE TRUMP

A abstenção americana foi vista como uma decisão marcante de fim de mandato do presidente dos EUA, Barack Obama, que teve uma relação difícil com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante seu mandato.

? Por décadas, os EUA têm enviado mensagens de que os assentamentos têm que parar. A votação de hoje está de acordo com a linha adotada pelos governos americanos ? justificou Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU.

Na véspera, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump veio a público pressionar Obama a vetar a medida. A votação, no entanto, acabou adiada por interferência do Egito. Segundo a equipe do presidente eleito, ele conversou por telefone com Netanyahu, e os dois falaram com o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi. Mas Nova Zelândia, Malásia, Venezuela e Senegal decidiram levar a votação adiante nesta sexta-feira.

Após a votação da ONU, não demorou muito para que Trump se pronunciasse contra a postura dos EUA, prometendo mudanças para o seu governo:

“Sobre a ONU, as coisas serão diferentes depois de 20 de janeiro”, escreveu o republicano, em seu Twitter, em referência à data em que deverá tomar posse da chefia da Casa Branca.

CESSAR’IMEDIATAMENTE E COMPLETAMENTE’

A resolução pede que Israel “cesse imediatamente e completamente todos as atividades de assentamentos nos territórios ocupados palestinos, incluindo Jerusalém Oriental” e que os dois povos voltem à mesa de negociações. Segundo o texto, o estabelecimento das colônias “não tem valor legal e constitui uma flagrante violação sob a lei internacional”. Ela precisava de nove votos para ser aprovada e de não ter o veto de EUA, França, Rússia, Reino Unido ou China.

O texto destaca que nos últimos meses as colônias proliferaram. Cerca de 430 mil israelenses vivem atualmente na Cisjordânia e outros 200 mil em Jerusalém Oriental, que os palestinos desejam ver como a capital de seu futuro país.

A decisão americana provocou fortes críticas em Israel.

? Os EUA abandonaram Israel, seu único aliado Oriente Médio ? disse o ministro de Energia e Recursos Hídricos, Yuval Steinitz. ? O coração dói após oito anos de amizade e cooperação com Obama.

O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, também criticou a posição, afirmando que o novo governo deve conduzir a uma nova era no relacionamento entre os dois países.

? Não tenho dúvidas de que a nova administração americana e o próximo secretário-geral da ONU (Antonio Guterres) acertarão o passo em direção a uma nova era na relação da ONU com Israel ? afirmou Danon.

Obama tem sido muito crítico em relação aos assentamentos, descrevendo-os como um entrave ao pocesso de paz e à solução dois Estados vivendo lado a lado. A abstenção representa uma frustração do governo americano com o crescimento das colônias. Trump, por sua vez, tem se mostrado mais simpático a Israel.