Cascavel – O número de casos de raiva bovina tem crescido assustadoramente nos últimos dias. Informações atualizadas pela unidade da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) de Cascavel, dão conta de que até agora, são 40 animais positivados e 37 focos e esse número poderá ser ainda maior nos próximos dias. Ao todo, o Paraná já registrou somente neste ano, 79 casos, ou seja, metade deste total é atribuído à Cascavel, de acordo com informações apuradas pelo O Paraná junto à coordenadora do Programa Estadual de Controle da Raiva, a médica veterinária Elzira Jorge Pierre.
No ano passado, a Adapar contabilizou 17 casos. Desde então, havia dez anos que Cascavel não registrava sequer um caso da doença em seu território. O fim dessa estatística ocorreu em 26 de março de 2021, quando Cascavel confirmou o primeiro caso daquele ano na comunidade de Colônia Barreiros. Do início do ano até julho, a Adapar havia registrado 17 casos. Em apenas 20 dias, as confirmações já somam o dobro disso. O cenário já gera preocupação das autoridades sanitárias de Cascavel. Os casos estão concentrados no Reassentamento São Francisco, Colônia Barreiros, Ponte Molhada, São Salvador, Rio do Salto e São Brás.
Morcego hematófago
De segunda-feira até esta quinta, foram mais três casos confirmados, conforme informações da médica veterinária da Adapar em Cascavel, Luciana Riboldi. Equipes da Adapar têm trabalhado de maneira intensa no controle do principal transmissor da doença, o morcego hematófago. Elas encontram abrigos de morcegos e com todos os equipamentos de segurança recomendados, realizam a aplicação da pasta vampiricida no dorso dos morcegos, que acabam infectando os demais e realizando o controle.
A orientação da Adapar para quem se deparar com o abrigo dos morcegos, é de não procurar destruir sozinho e nem tentar capturar ou manipular os animais. Ao sinal de qualquer suspeita do transmissor, a orientação é para acionar os órgãos competentes, como por exemplo, a própria Adapar.
O animal infectado pelo vírus da raiva apresenta os seguintes sintomas: andar cambaleante, paralisia, sialorreia (produção excessiva de saliva) e opistótono (estado de distensão e espasticidade grave, no qual a cabeça, pescoço e coluna vertebral de um indivíduo formam uma posição em arco côncavo para trás).
Vacinar é o caminho
A única e mais eficiente maneira de conter o aumento dos números de casos confirmados de raiva bovina, está literalmente nas mãos do pecuarista: é a imunização do rebanho. Por não ser obrigatória, muitos relutam em fazer a aplicação da vacina no plantel, temendo o custo extra, diante do momento não muito favorável para o setor em virtude de situações como a falta de alimentos provocada pela quebra na safra de milho, um dos principais insumos da cadeia de proteína animal e em virtude das intempéries climáticas, que comprometeram a produção de silagem nas propriedades.
Há também recomendações por parte das autoridades de saúde, no caso de pessoas que tiveram contato com a saliva do animal infectado ou suspeito com as mãos desprotegidas. A orientação é de que procure atendimento médico para uma posterior avaliação e verificação de necessidade da vacina antirrábica. Outra recomendação é a de manter gatos e cães vacinados e procurar imediatamente atendimento médico em caso de mordidas ou até mesmo arranhões por parte de animais domésticos suspeitos ou de morcegos.
O morcego geralmente ataca animais em locais abertos, devido à facilidade. Eles mordem a presa e sugam o sangue. Se o animal não está imunizado, ele é contaminado com o vírus, que possui um período de incubação bastante variável. Os primeiros sinais no morcego, podem aparecer em até 250 dias. Já nos bovinos, variar de um a três meses.
A recomendação é vacinar todos os herbívoros domésticos a partir dos três meses de idade. Os animais primovacinados, ou seja, nunca antes vacinados, devem receber uma dose de reforço 30 dias após a primeira dose e, posteriormente, a revacinação deve ser anual. É importante ressaltar a importância do custo da vacinação em relação ao custo dos animais e o custo-benefício no investimento na prevenção da doença. A vacina antirrábica é elaborada com diluente aquoso, não provocando abscessos e muito menos febre nos animais, desde que administrada sob condições adequadas de higiene e orientação profissional.
Foto: AEN
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Cenário atual só fica atrás de 2007
Os casos de raiva bovina registrados do início do ano até agora em Cascavel só perdem para 2007, quando ocorreu a confirmação de um número quatro vezes maior que o atual em todo o Estado, segundo a Coordenação Estadual de Controle da Raiva, ligado à Adapar. Naquela ocasião, surgiu a necessidade de decretar a vacinação compulsória dos rebanhos, sob pena de o pecuarista sofrer sanções e multas. “Esse ano, a raiva bovina voltou com tudo e a única maneira de evitar é vacinando o rebanho”, comenta Elzira Pierre.
A raiva é considerada uma doença endêmica no Paraná. “Nunca fica abaixo de 70 casos por ano no Paraná, mas neste, já são 79 e estamos na metade de 2022”. As confirmações iniciaram na região de Umuarama, passando para Toledo e depois Cascavel. “Paralelamente à falta de imunização do rebanho, outro fator que pode estar influenciando no crescimento dos casos são as alterações ambientais, uma vez que menos de 1% dos morcegos são contaminados nos abrigos. A não ser que passem por uma situação de estresse capaz de reduzir a imunidade, atribuída a construções e reformas em rodovias, represas e até mesmo o turismo perto das cavernas”.
O valor da dose da vacina “é pífio”, diante do resultado do que uma contaminação pode causar, como a morte do animal. “O maior perigo é com a saúde pública, pois se trata de uma zoonose passível de transmissão ao ser humano”, descreve Elzira Pierre.
A coleta de exames funciona da seguinte forma: só pode ser feita após o óbito do animal, com a retirada de uma mostra do cérebro e envio para o Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, em Curitiba.