BUENOS AIRES – A Câmara argentina aprovou hoje, por 137 votos contra 49, uma resolução para solicitar à Justiça uma inspeção na residência do ex-ministro do Planejamento e atual deputado kirchnerista Julio De Vido. A medida vem na esteira da prisão do ex-secretário de Obras Públicas kirchnerista José López, detido há pouco mais de uma semana, quando tentava esconder mais de US$ 9 milhões num mosteiro. A votação provocou uma nova fuga de deputados da kirchnerista Frente para a Vitória, que nesta quinta perdeu outros seis congressistas.
Paralelamente, avança no Parlamento argentino um projeto para criar a figura judicial do ?arrependido? em casos de corrupção. A Casa Rosada, que promove a iniciativa, acredita que delações premiadas, atualmente previstas apenas em processos sobre delitos como lavagem de dinheiro, podem ajudar os tribunais a avançarem mais rápido nas investigações sobre a corrupção na era kirchnerista.
Nesta quinta, De Vido, homem do círculo íntimo dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), disse estar submetido ?a uma perseguição política?. O deputado comandou um dos ministérios com maior orçamento dos governos Kirchner e na opinião da bancada da aliança governista Mudemos deve ser alvo de uma profunda investigação judicial. De Vido era chefe de López e também do ex-ministro do Transporte, Ricardo Jaime, preso desde abril passado por sua responsabilidade em casos de corrupção.
? De Vido controlou o caixa de Néstor e Cristina ? declarou a deputada Elisa Carrió, aliada do presidente Mauricio Macri e a primeira pessoa em denunciar o ex-ministro por suposta associação ilícita, em 2008.
O caso López provocou uma crise dentro do kirchnerismo. Até mesmo defensores do partido liderado pela ex-presidente Cristina Kirchner disseram sentir ?vergonha? pela descoberta da Polícia Federal no mosteiro da cidade de General Rodríguez, na província de Buenos Aires. No momento em que foi preso, o ex-secretário tinha, ainda, uma quantidade não confirmada de euros, ienes e joias. López continua detido, assim como outros ex-funcionários e empresários kirchneristas como Lázaro Báez, sócio da família Kirchner e acusado de lavagem de dinheiro.