RIO – Cordões em persianas e cortinas: perigo para todas as crianças é o tema de campanha mundial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), envolvendo mais de 20 países incluindo, além do Brasil, Estados Unidos, México e membros da União Europeia , de hoje até a próxima quinta-feira, dia 30. É raro quem olhe para cortinas e persianas e consiga enxergar um potencial de risco de acidente para os pequenos. Mas o fato é que os cordões dos dois acessórios foram responsáveis, só nos Estados Unidos, por cerca de 200 mortes, de 1996 a 2012. A Comissão de Segurança de Produtos americana (CPSC, sigla em inglês) recebe um um relato por mês de morte de criança por sufocamento com cordões de persianas e cortinas. No Brasil, em 15 anos, foram relatados 540 casos de enforcamento. A estatística brasileira não determina o que levou ao acidente, no entanto, especialistas avaliam que nossa realidade deve ser bastante semelhante à americana.
Embora não tenhamos estatísticas no Brasil, não temos porque achar que a realidade é diferente do que mostram os números das entidades de segurança dos EUA e da União Europeia. O objetivo com a campanha é aumentar a conscientização do risco e incentivar o registro dos acidentes. Sabemos que há uma subnotificação, até porque, muitas vezes, o sentimento de culpa dos responsáveis, que não deveria existir, inibe o registro ressalta Paulo Coscarelli, assistente da Diretoria de Avaliação da Conformidade do Inmetro, órgão que coordena a campanha no país, com apoio da ONG Criança Segura e do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Para a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas, o fato do Brasil não especificar o acidente de estrangulamento com o cordão de persianas e cortinas em suas estatísticas, atrapalha na divulgação e conhecimento dos pais da existência dos riscos que o produto oferece as crianças:
Certamente dos cerca de 50 casos de estrangulamento de crianças que acontecem por ano no Brasil uma parte considerável é desse tipo de acidente, até pelos relatos que chegam até nós.
O maior risco de acidente é com crianças entre zero e 6 anos de idade. Mas segundo Coscarelli, a maior parte dos casos registrados são de crianças na faixa dos 4 anos, que já se movimentam sozinhas pela casa. O laço dos cordões, em altura acessível é o maior risco ao enforcamento, diz ele, acrescentando que uma medida eficaz é cortar o cordão, deixando duas cordas paralelas.
Nesse caso, continua o risco da criança se pendurar nelas, mas o de enforcamento é bastante reduzido explica Coscarelli.
ALGUNS CUIDADOS PODEM EVITAR ACIDENTES
Ele acrescenta que o Inmetro vai divulgar dados e orientações para reduzir os riscos de acidentes. O órgão também irá aprofundar o estudo sobre os riscos oferecidos pelo produto para avaliar se cabe adotar alguma medida regulatória adicional. No momento, o instituto reúne informações sobre o assunto por meio de benchmarking internacional e dados recebidos de acidentes no Brasil. Gabriela destaca que o ideal, realmente, seria que a cortina fosse fabricada de maneira que excluísse esse risco, de forma que os cordões não ficassem expostos.
Já que essa ainda não é uma realidade, o principal é não deixar a criança com acesso aos cordões. Podemos conseguir isso com os enroladores, que são vendidos em lojas infantis; não deixando móveis próximos a cortina, como berço ou banquinho para que a criança não tenha a possibilidade de usá-lo como escada. Também é muito importante que tenha sempre um adulto monitorando a criança, principalmente porque em alguns casos a criança fica em silêncio, não consegue emitir nenhum ruído alerta, acrescentando que em caso de acidente, a orientação é levar a criança o quanto antes para um atendimento de urgência.
Na avaliação de Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec, a importância da campanha é trazer à luz um tema que ainda é preciso reforçar entre consumidores e fornecedores, que é a prevenção ao acidente de consumo, nesse caso, com risco para a criança.
Casos de sufocamento com cordões, assim como outros acidentes de consumo, devem ser registrados no Sistema Inmetro de Monitoramento de Acidentes de Consumo, que são usados como base de atuação das entidades de defesa do consumidor e para medidas regulatórias. Quem quiser participar da campanha nas redes sociais, a hashtag no país é #cortinasegura.