RIO – O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, vê no mercado um otimismo incompatível com o atual cenário fiscal do país. Para ele, uma taxa de câmbio ideal estaria mais próxima de R$ 3,40.
Por que o dólar caiu tanto?
A moeda americana já vinha meio fraca, desde a divulgação do resultado do PIB nos EUA, abaixo do esperado, que distancia o aumento de juros por lá e, assim, favorece a liquidez global, já que permanece o estímulo para buscar rentabilidade em outros mercados. Além disso, aqui no Brasil, os agentes de mercado estão otimistas, apostando na definição do cenário político, com um governo mais pró-mercado. Essa postura, contudo, ainda é temerária, pois não está claro o andamento das reformas.
Faz sentido esta taxa?
Na nossa avaliação, está descolada dos fundamentos do país e até do cenário global. A taxa não está tomando em conta o comportamento global do dólar (que não é tão fraco), nem os preços das commodities (apesar de ter registrado alguma recuperação, o minério de ferro não se aproxima dos patamares de três anos atrás), tampouco a falta de vigor da economia mundial. No Brasil, está desalinhada com os fundamentos: cenário fiscal deteriorado, com déficit primário em 2,7% do PIB neste ano e 2% no ano que vem; déficit nominal perto de 10%; relação dívida/PIB alcançando 80% nos próximos três anos (nossa projeção é de 85% em 2019). O prêmio de risco do Brasil caiu, mas ainda é alto (275). São dados incompatíveis com a recuperação do grau de investimento, que só deve acontecer após cinco anos.
Quanto seria o câmbio em linha com os fundamentos?
Algo mais perto de R$ 3,40 do que de R$ 3,20. Não há respaldo para taxa abaixo de R$ 3,20. Mas é bom lembrar que nem sempre os mercados operam em linha com fundamentos, e isso não necessariamente é revertido em curto prazo. Pode ficar um tempo operando com o otimismo.
Qual pode ser o impacto deste novo patamar de câmbio?
Pode estimular o Banco Central a baixar os juros, quem sabe na reunião de outubro.