SÃO PAULO – O ex-governador do Rio Sérgio Cabral disse, em depoimento à Polícia Federal após ser preso, na quinta-feira passada, que tem a “consciência tranquila” com relação às acusações feitas contra ele. Apontado como líder de um grupo que desviou R$ 224 milhões em obras públicas, Cabral declarou que são mentirosas as denúncias feitas contra ele nas delações de executivos de empreiteiras que participaram do esquema de corrupção.
Segundo cópia do depoimento, ao final do interrogatório, Cabral “externou sua indignação com a situação e a afirmação dos delatores e (disse) que tem a consciência tranquila quanto as mentiras absurdas que lhe foram imputadas e (disse) que acredita na Justiça”.
]Ao ser confrontado com as delações dos executivos da Andrade Gutierrez Rogerio Nora e Cloves Primo, disse que “acha que essas informações apresentadas nas delações dos mencionados foram para salvar as delações dos executivos da AG e Paulo Roberto Costa, desconhecendo tais fatos e sendo isso uma ‘mentira'”
O ex-governador afirmou que todas as reuniões que teve com representantes de empreiteiras tiveram o objetivo de discutir obras no estado, foram acompanhadas por secretários e ocorreram na sede do governo do Rio ou na residência oficial do governador. Cabral também afirmou que nunca solicitou a Carlos Miranda, seu homem de confiança, a pedir propina em seu nome. Cabia a Miranda, porém, auxiliar “sua vida pessoal financeira” e até fazer sua declaração de Imposto de Renda.
No depoimento, segundo a PF, afirmou que “não recebeu propina e toda a sua política foi voltada para o crescimento econômico do estado”. Ele também disse desconhecer a “taxa de oxigênio”, que, segundo os procuradores, era um sinônimo de propina.
Cabral também negou a existência de qualquer tipo de atuação para beneficiar a empresa Delta Construções para a reforma do estádio do Maracanã, como foi dito por Nora e Primo. Também refutou “qualquer tipo de relação espúria com Eike Batista”, embora tenha confirmado que já viajou em um avião do empresário para Salvador e para defender a candidatura do Rio para as Olimpíadas de 2016.
Cabral afirmou que não se lembrava como foram pagas reformas de até R$ 100 mil em sua casa nem de quantas compras fez em joalherias citadas pelos policiais federais.
O Ministério Público Federal também anexou ao processo os bens apreendidos nas propriedades de Cabral durante a deflagração da Operação Calicute. Além de cinco celulares e seis tablets, a Polícia Federal apreendeu 40 joias, encontradas no cofre do casal, 28 obras de arte e três veículos.
Em outras propriedades de Cabral, em Angra dos Reis e Mangaratiba. também foram encontrados uma moto-aquática, um “jet-boat” e uma lancha. Os três, no entanto, não foram levados pela PF e permanecem nas marinas.
(*Estagiário, sob supervisão de Flavio Freire)