RIO – Movimentos políticos na Bolívia e no Zimbábue articulam estender o
governo de velhos líderes em seus países. O governista Movimento ao Socialismo
(MAS) decidiu neste sábado que o presidente Evo Morales será novamente candidato
à presidência nas eleições de 2019 na Bolívia, apesar de ele não estar
legalmente habilitado para tal, devido ao resultado do referendo de fevereiro.
Já no Zimbábue o presidente Robert Mugabe, que ocupa o cargo há 36 anos, foi anunciado,
também neste sábado, como candidato-único às eleições presidenciais de seu
país, que ocorrerrá em 2018. Ele tem 92 anos
de idade.
No caso de Morales, que está no poder desde 2006, o obstáculo será legal.
Morales, 57 anos, perdeu em fevereiro um referendo nacional para alterar a
Constituição e lhe permitir a disputa do quarto mandato, correspondente ao
período entre 2020 e 2025.
O congresso partidário recomendou “quatro alternativas legais para habilitar
a candidatura dentro da via constitucional”, explicou um líder sindical ao ler
as conclusões, já que, por agora, o mandato de Morales vai até 22 de janeiro de
2020.
A primeira sugestão é a reforma de parte da Constituição Política através de
uma iniciativa cidadã , com a coleta de assinaturas equivalentes a 20% do padrão
eleitoral. O segundo caminho se refere a uma reforma constitucional que permita
a reeleição de autoridades por mais de um período de forma contínua. A terceira
opção recomenda que o presidente renuncie antes das eleições de 2019,
antecipando a conclusão de seu mandato atual. A última alternativa diz respeito
à habilitação a um novo mandato mediante a interpretação da Constituição
Política do Estado.
Morales, que, segundo a pesquisa mais recente, conta com uma aprovação de
49%, aceitou a candidatura, mas a condicionou ao respaldo popular. “Se o povo
decidir, Evo continua. Nenhum problema. Vamos derrotar a direita. Tantas vezes
derrotamos a direita. Temos confiança nos movimentos sociais”, disse o
presidente após a votação unânime do MAS, em um congresso realizado em Montero,
leste da Bolívia.
O caso de Mugabe é diferente. Apesar de sua
idade e dos problemas de saúde, o dirigente não tem nenhum sucessor nem
concorrente, já que exerce com punho de ferro o seu cargo há quase quatro
décadas, reprimindo qualquer contestação, tanto dentro do partido quanto fora
dele.
Como era esperado, Mugabe foi
nomeado pelo congresso anual de seu partido, a União Nacional Africana de Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF), que reuniu cerca de 9 mil delegados em
Masvingo, a 300 quilômetros ao
sudeste da capital, Harare. Os delegados defenderam ?seu apoio ao presidente e
primeiro secretário, o camarada Robert Mugabe, como candidato único para as próximas
eleições de 2018?, declarou a vice-secretaria da Zanu-PF, Eunice Sandi Moyo.
Mesmo assim, na ausência de um sucessor designado, as lutas internas no
partido surgiram, bem como um movimento de protesto civil, cujos membros tomaram
as ruas no verão passado, com marchas na qual Mugabe foi acusado de ?ditador?. A repressão à
oposição tem tido uma resposta até agora tranquila. Mas a grave crise econômica
que afeta o país, onde 90% da população está desempregada, mantém o regime sob
pressão.