Capanema – Com a gradual retomada das obras da hidrelétrica do Baixo Iguaçu há cerca de três semanas, cresce a expectativa das famílias afetadas pelo empreendimento de retomada do diálogo para definir os valores das indenizações.
As negociações foram suspensas há cerca de 17 meses como uma das consequências de determinação da Justiça que cassou a licença de instalação do canteiro devido a pendências ambientais – outra foi a demissão de mais de 1,5 mil trabalhadores.
Com a superação dos entraves jurídicos e o reinício dos trabalhos, as famílias afirmam ter pressa em resolver uma pendência que custa caro psicológica e financeiramente, informa o agricultor Sidnei Martini, que é de Capanema.
A interrupção da obra só fez aumentar o clima de expectativa, já que sem solução definitiva os produtores rurais atingidos não sabem o que fazer, conforme Martini.
Com a suspensão das negociações, que apesar de algumas discordâncias estavam avançadas, as famílias perdem dinheiro porque não têm segurança em investir na propriedade.
Elas cultivam as suas áreas, porém muitas deixaram de fazer correções de solo, não melhoram e muito menos ampliam suas estruturas físicas porque sabem que esse poderá ser um dinheiro perdido. Sem adotar os cuidados que geralmente empregaram, certamente ocorrerão prejuizos em quantidade e qualidade do que for produzido”, lamenta Sidnei Martini.
Não há áreas
Há um outro temor entre as famílias donas de áreas de 1 a 12 alqueires, que estariam automaticamente integradas aos programas de reassentamento da usina, próximas aos seus locais de origem. Não há áreas grandes o suficiente para assentar a todas na região, principalmente agora em uma época de forte valorização das commodities com dólar valendo mais de R$ 4.
São muitas as questões que queremos e que precisamos debater com os parceiros do consórcio que constrói a usina, a Neoenergia e a Copel, afirma um agricultor de Capitão Leônidas Marques que terá parte de suas terras banhadas pelo reservatório da hidrelétrica.
A primeira reunião entre as partes estaria previamente agendada para esta quinta-feira, 18, em Capanema ou Capitão Leônidas Marques. Porém, o encontro ainda não foi confirmado pela direção da usina. Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa do consórcio não deu retorno a questionamentos feitos pela equipe de reportagem de O Paraná.
Terras valorizaram em cerca de 100%
Há um outro ponto importante que as famílias querem debater com o consórcio para definir as novas referências do caderno de preços que será aplicado nas desapropriações. Nos últimos 17 meses, a forte valorização do dólar frente ao real fez os preços da soja e do milho alcançarem patamares dos mais elevados dos últimos anos.
Uma das consequências foi a valorização das áreas de forte produção agrícola, como ocorre na região dos municípios que serão banhados pela hidrelétrica do Baixo Iguaçu, entre Oeste e Sudoeste conforme o agricultor Sidnei Martini.
Em algumas regiões, nas quais as produtividades são mais elevadas e a terra é considerada melhor, o preço do alqueire praticamente dobrou em menos de dois anos. São cerca de mil as famílias de agricultores, entre proprietários, arrendatários e outros, que teriam direito à indenização.
Oitenta por cento dos atingidos se enquadram em uma categoria chamada de desfavorável. Eles estão às margens de estradas cascalhadas e a até 12 quilômetros de centros comerciais. Nesse caso, o valor do alqueire girava entre R$ 22 mil e R$ 105 mil, na época já considerado aquém ao de mercado.
Energia a um milhão de pessoas
Obra do primeiro PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, a Usina do Baixo Iguaçu está orçada em R$ 1,7 bilhão. Pronta, ela terá capacidade para abastecer cidade com um milhão de habitantes.
Os projetos ambientais e do reservatório de passagem fazem dela uma nova referência para empreendimentos do tipo no Brasil. Antes da paralisação dos trabalhos, em julho de 2014, a previsão era de que o empreendimento ficaria pronto em 2016. Todos os prazos originais estão em revisão.