Cotidiano

Avião movido a energia solar completa volta ao mundo

ABU DHABI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS – O avião experimental Solar Impulse 2 pousou por volta das 21h de ontem (horário de Brasília) em Abu Dhabi, completando com sucesso a última etapa de sua viagem de volta ao mundo sem usar uma gota de combustíveis fósseis. Com o objetivo de demonstrar o potencial das fontes limpas de energia, a aeronave movida à luz do Sol cruzou quatro continentes, dois oceanos e três mares em pouco mais de um ano numa saga de cerca de 42 mil km em 17 escalas, pilotada pelo explorador suíço e diretor do projeto Bertrand Piccard e seu compatriota Andre Borschberg.

– Fantástico ? comemorou Piccard, de 58 anos, ao tocar o solo no Aeroporto Executivo de Al-Bateen, na capital dos Emirados Árabes Unidos, mesmo local de onde partiu para dar início à viagem em 9 de março de 2015. – Nós conseguimos!

Apelidado de ?avião de papel?, o Solar Impulse 2 pesa 2,3 toneladas, o equivalente a um carro utilitário comum, mas tem uma envergadura maior que a de um Boeing 747 Jumbo, chegando a 72 metros. Esta configuração garante a sustentação para que seja impulsionado por quatro hélices movidas por motores elétricos, cujas baterias são alimentadas por uma rede de 17.248 células fotovoltaicas instaladas nas suas asas. Com isso, ele atingiu uma velocidade média de aproximadamente 80 km/h durante a viagem a altitudes que chegaram a mais de 9 mil metros. Isto obrigou os pilotos a usarem tanques de oxigênio para respirar no ar rarefeito, além de roupas desenhadas para enfrentarem condições extremas na cabine, onde a temperatura podia ir de gélidos -20 graus a quentes 35 graus Celsius.

Ao lançar o projeto do Solar Impulse em 2003, Piccard – psiquiatra de formação, mas de uma família com longa tradição de pioneirismo na aviação ? afirmou que pretendia ?realizar o impossível?. E ele conseguiu, embora seu sonho tenha demorado bem mais que o esperado para virar realidade. Originalmente, a ideia era completar a volta ao mundo em cerca de cinco meses, incluindo apenas 25 dias de efetivo voo.

E tudo parecia ir como o planejado até julho do ano passado, quando Borschberg quebrou o recorde mundial de voo ininterrupto de maior duração, levando pouco menos de 118 horas para cobrir quase 9 mil quilômetros entre Nagoia, no Japão, até o Havaí, provando também ser viável o uso de baterias para longos voos noturnos. O feito, no entanto, cobrou seu preço no equipamento, já que algumas das baterias sofreram danos irreparáveis devido ao superaquecimento no trajeto. O avião então passou por uma longa parada para manutenção, e a viagem só foi retomada no fim de abril deste ano.

– É um projeto para a energia, por um mundo melhor ? lembrou Piccard pouco antes de partir do Cairo, Egito, na noite do último sábado para esta última etapa da saga. – Estamos testando todas essas novas, modernas e limpas tecnologias para poder voar por uma duração sem fim. Temos novos materiais isolantes, novas lâmpadas LED e estruturas de fibra de carbono extremamente leves. Tudo isso poderá ser usado em solo, dividindo à metade o consumo de energia e, desta forma, as emissões mundiais CO2 (dióxido de carbono, um dos principais gases causadores do efeito estufa). É uma completa revolução na proteção do meio ambiente.

Em videoconferência com Piccard ainda na manhã de ontem, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, parabenizou o explorador suíço e toda equipe do Solar Impulse pelo feito.

– Este é um dia histórico, não apenas para você, mas para a Humanidade – disse Moon. ? Você pode estar terminando a sua jornada, mas a jornada para um mundo sustentável está apenas começando.