Toledo – O viticultor Iraldo Rauber é um sobrevivente que resiste ao tempo e logo você vai saber por quê. Há alguns anos o Município de Toledo era uma referência em toda a região na produção de uvas. A falta de mão de obra especializada, o baixo índice de sucessão familiar e de incentivos, até governamentais, fizeram com que a área reduzisse pela metade e a quantidade de produtores também.
A cultura altamente rentável se apresenta como uma ótima opção para diversificação da pequena propriedade rural. Ano passado, o preço médio por quilo foi de R$ 4,50, lembrando que cada hectare rende pelo menos 15 toneladas nas variedades para mesa. Há cinco anos, por exemplo, existiam na cidade, conforme lembra o técnico do Instituto Emater apaixonado pelo setor Célio Potrich, pelo menos 30 produtores que cultivavam 30 hectares. “É uma cultura muito indicada para a diversificação da pequena propriedade e é por isso que neste ano vamos recomeçar um trabalho de incentivo. Trabalhar fortemente para ampliar novamente a área, que hoje caiu pela metade, e seguir com o cultivo da uva”, reforçou.
Neste momento em todo o Município parte dos 15 hectares cultivados com as uvas está iniciando o período da colheita. Até o fim do ano serão pelo menos 225 toneladas da fruta desejada por muitos, principalmente para as festividades de fim de ano. “E para quem pensa que isso é bastante, todo ano falta uva no mercado. Ano passado, se tivesse mais, sairia mais e sempre é assim. Por isso digo: se mais produtores começarem o cultivo, todos terão mercado garantido”, reforçou o técnico.
Iraldo Rauber, lá do início da matéria, é um dos poucos que já começaram a colheita. Em seu parreiral com 5 mil pés distribuídos em 1,3 hectare no Distrito de Novo Sobradinho há 12 variedades para a mesa. Entre as que já foram colhidas estão a vênus, a concórdia e a violeta.
Agora é hora de começar a colheita da niágara e da isabel precoce.
Uma devoção com 5 mil pés e 18 anos
Desde 1999 Iraldo Rauber mantém o parreiral que começou com apenas 250 pés. Na frente da residência há um ponto comercial, na estrada principal que passa pelo Distrito de Novo Sobradinho, interior de Toledo.
Ele aproveita o movimento de quem vai e vem para faturar um dinheirinho extra. “O que eu coloco à venda sai. Há dias em que até preciso deixar fechado, porque não tenho uva suficiente para atender a todos, mas no dia que não abro, durante a colheita, tem gente batendo na porta para comprar”, conta, sorrindo.
O período só não é melhor porque duas estiagens e uma chuva pesada de granizo castigaram bastante o parreiral. “Quando fiz as duas podas tivemos duas secas muito grandes, depois veio uma chuva de granizo e tudo isso dificultou a produtividade. Eu esperava colher umas 21 toneladas, mas acho que não vai passar de 11 toneladas”, revela.
Para as festas de fim de ano
A intensificação da colheita em Toledo ocorre a partir de dezembro. Isso porque a maior parte dos produtores trabalha a poda dos parreirais justamente para ter a fruta disponível para as ceias de Natal e de Réveillon.
Uma parte da produção de Iraldo Rauber também ficará pronta para o consumo nesse período e ele teve uma sacada de mestre. Na onda da black friday, ele vai fazer, mais uma vez, uma promoção toda especial numa espécie de black week. Por cerca de uma semana, geralmente entre o Natal e a virada do ano, ele faz uma promoção que já entrou para o calendário oficial de eventos do Município de Toledo. “É o Colha e Pague. Neste período cobro metade do preço por quilo [se o preço praticado agora se mantiver, de R$ 7, naquele período sairá por R$ 3,50], mas o comprador precisa colher e trazer a embalagem. Isso já virou um sucesso aqui em Novo Sobradinho”, brinca o agricultor.
A preocupação: sem sucessão, tradição fica ameaçada
Mas uma situação causa preocupação. Os filhos não estão no campo há muitos anos e quando Iraldo Rauber não puder mais cuidar do pomar, não sabe para quem vai passar o legado. “É uma cultura que exige muito. É cuidado o ano inteiro. Se a gente se descuidar, pode perder tudo e, se não tiver essa mesma dedicação, de nada adianta o trabalho”, conta.
O problema enfrentado por ele é o mesmo que os demais que se dedicam ao cultivo da uva em Toledo. “A sucessão é sempre um problema enfrentado no campo, mas em culturas como a da uva, que exigem mais cuidados, é ainda maior”, reconhece Célio Potrich, ao lembrar que, além de incentivar a plantação, há de se buscar mecanismos para a manutenção dos parreirais como uma espécie de transmissão de cultura e de conhecimento.
Apesar de todos os percalços, quem está na lida não quer deixá-la. “Eu adoro isso tudo. Aprendi a cuidar dos parreirais em 1999 e fui me aprimorando com a assistência técnica. Além de ser uma fonte de renda, é a minha terapia”, afirma o produtor.