Cotidiano

Artigo: Tá todo mundo louco, por Ricardo Rangel

Depois, Marco Aurélio, sem base jurídica, destituiu Renan da presidência do Senado ? mas este recusou-se a receber o ofício. Gilmar anunciou que em sua terra ?não se corre atrás de doido?, e sugeriu o impeachment do colega. O STF contrariou seu próprio entendimento e manteve um réu na presidência; Renan não foi sequer denunciado pelo flagrante desacato.

Este ano, Temer, numa tentativa de blindar Moreira contra a Lava-Jato, o faz ministro. Indica Alexandre de Moraes, seu ministro da Justiça, e membro do PSDB, para o STF. E cogita nomear ministro da Justiça o advogado Antônio Mariz, crítico enfático da Lava-Jato. Mas quer que acreditemos que não vai interferir na operação.

Ainda que sua nomeação pareça espúria, não há, a rigor, nada concreto contra Moreira, que é ministro de facto desde maio passado (muito diferente de Lula, que era investigado e poderia ser preso). Mas isso não impede que três (!) juízes de primeira instância, baseados numa adivinhação, suspendam sua nomeação. Em uma decisão digna do troféu Lewandowski de criatividade, um tribunal fatia a nomeação e permite que seja ministro, mas sem direito a foro privilegiado.

O Senado escolhe para a CCJ, a comissão mais importante da casa, capaz de derrubar qualquer projeto de lei, uma penca de nomes suspeitos, incluindo o presidente, Lobão, que responde a quatro inquéritos e é dono de uma das piores reputações da república.

Espantosamente, o prefeito do Rio nomeia o próprio filho chefe da Casa Civil. Ainda que a nomeação seja de mau gosto, o nepotismo não é óbvio, mas isso não impede Marco Aurélio, contrariando decisão anterior de seu colega Barroso, de suspendê-la liminarmente.

O TRE/RJ cassa Pezão por abuso de poder econômico, mas não explica precisamente por que, e determina que o estado ? quebrado e sem nenhuma capacidade operacional ? organize eleições diretas, quando o normal seriam indiretas.

Com a greve da PM no Espírito Santo, alcançamos o surrealismo. Policiais que têm os vencimentos em dia fazerem greve ? o que, além de inconstitucional, é crime ? já seria uma loucura, mas que dizer quando homens feitos, militares, que andam armados, afirmam que, pobrezinhos, não podem trabalhar porque suas mulheres não o permitem? Devemos considerar que são covardes, porque usam as mulheres como escudo, ou que são covardes, porque fazem tudo o que suas mulheres mandam, incluindo fugir a suas responsabilidades?

Simão Bacamarte, na novela ?O Alienista?, de Machado de Assis, ao dar-se conta de que todos estão doidos, chega à conclusão de que o doido deve ser ele, e interna-se a si mesmo. Machado não seria um bom analista para o Brasil do século XXI. Precisamos do compositor Silvio Brito, autor de ?Tá Todo Mundo Louco?.