A prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral é apenas o mais recente de uma sequência avassaladora de fatos que precipitaram uma verdadeira debacle do PMDB do Rio, grupo que dominou a política local por uma década. A crise do PMDB fluminense é evidenciada pela dramática crise fiscal enfrentada pelo Estado no governo do sucessor e aliado de Cabral, uma consequência direta das políticas implementadas em seu próprio governo. Somada à derrota do candidato a prefeito do seu partido na capital e a prisão preventiva do também peemedebista Eduardo Cunha, sua detenção inaugura um novo momento político, que se vislumbra entre os escombros da velha ordem.
Para além das lideranças políticas que estarão à frente deste novo ciclo, é certo que ele será marcado por uma renovação de princípios e de valores, resultado de uma pressão irrefreável da sociedade no sentido da mudança de práticas na política, em nível local e nacional. A transparência radical será, sem dúvida alguma, um dos seus pilares. Sem a abertura de dados e informações hoje controlados pelo Estado e o saneamento das relações entre o público e o privado, os custos gerados para a sociedade serão inaceitáveis ? como vemos hoje da pior forma, quando já há pouco a se fazer.
Os acontecimentos que têm vindo à tona nos últimos tempos são, nesse sentido, apenas mais um episódio do processo de aumento da insatisfação social com o sistema político, refletido em uma aguda corrosão da confiança que já ameaça atingir as próprias instituições da democracia. São patentes as demandas por um resgate de valores republicanos no tratamento do interesse público e princípios caros a um regime democrático.
Os últimos acontecimentos ? nas eleições, na crise fiscal e, agora, na esfera judicial ? servem de lição para os novos eleitos, aqui e em todo o Brasil. Há uma enorme expectativa de que os novos governos alterem em definitivo os fatores dessa equação ou sejam forçados a isso. Transparência, gestão orçamentária responsável e interlocução direta com a sociedade civil são elementos doravante indispensáveis ao resgate da política.
(*) Sociólogo e diretor da FGV DAPP