SÃO PAULO – Mais de cem obras compõem a exposição ?Entre nós ? A figura humana no acervo
do Masp?, que abre ao público amanhã (e para convidados hoje), no Centro
Cultural Banco do Brasil (CCBB) carioca. Trata-se de apenas 0,01% do acervo do
Museu de Arte de São Paulo (Masp), mas o valor de boa parte delas é inestimável,
como o da pintura renascentista ?Ecce Homo ou Pilatos apresenta Cristo à
multidão?, de Jacopo Tintoretto (1518-1594). Por ser um conjunto tão grande e
representativo das várias coleções do museu, os organizadores tomaram o cuidado
de despachá-las em caminhões climatizados pela rodovia Dutra, separando os lotes
por valores para evitar que uma fatalidade leve embora uma parte importante da
arte mundial. Veja obras da mostra ‘Entre nós – A figura humana no acervo do Masp’
A história da exposição ?Entre
nós?, na verdade, remonta ao início dos anos 1950, quando a sede do Masp ficava
em uma ampla sala no segundo andar do Edifício Guilherme Guinle, no Centro de
São Paulo ? o prédio com vão livre e colunas vermelhas, um dos cartões-postais
da cidade, só seria inaugurado em 1969. Foi nessa época que o então diretor do
museu, o jornalista e crítico de arte italiano Pietro Maria Bardi, montou uma
mostra com cem pinturas para dar visibilidade à coleção reunida por ele e pelo
patrono da instituição, o empresário paraibano das comunicações Assis
Chateaubriand, que usava de métodos pouco convencionais ? como chantagear
grandes empresários com a ameaça de notícias negativas a seus negócios ? para
obter doações. A primeira turnê internacional do Masp começou em 1953, em Paris,
no Musée de l?Orangerie, e terminou quatro anos depois, nos Estados Unidos, onde
as obras foram exibidas no Metropolitan de Nova York e no Toledo Museum of Art,
para depois desembarcar no Rio, em 1958, onde ficou exposta no Museu Nacional de
Belas Artes.
? Essa exposição tem várias
origens ? diz Rodrigo Moura, curador assistente de Arte Brasileira do Masp, que
divide a curadoria com Luciano Migliaccio. ?Vem do desejo de fazer circular mais
o acervo do Masp. Nos últimos dois ou três anos, fizemos um movimento de
retomada do acervo, com a recolocação dos cavaletes (projetados pela
arquiteta Lina Bo Bardi) e a sua revitalização. É um movimento forte, com o
objetivo de fazer com que mais pessoas possam entrar em contato com essas
obras.
Do recorte planejado por Bardi,
três obras de valor incalculável voltam para apreciação do público carioca:
?Ressurreição de Cristo?, de Rafael Sanzio (1483-1520); ?O negro Cipião?, de
Paul Cézanne (1839-1906), e ?A arlesiana?, de Vincent Van Gogh (1853-1890).
Outras da seleção recente, como ?Êxtase de São Francisco com os estigmas?, de El
Greco (1541-1614); ?Retrato da condessa de Casa Flores?, de Francisco Goya
(1746-1828), e ?A amazona?, de Édouard Manet (1832-1883), nunca foram ao Rio.
São exemplos importantes que cobrem parcialmente o arco histórico do
figurativismo europeu, indo do pré-renascentismo até pouco antes do modernismo.
PAINEL ABRANGENTE
Com mais de cem obras, ?Entre nós?
abrange muito mais do que isso. A exposição começa com peças pré-colombianas,
dos anos 900 a 1200 d.C., e termina nos dias de hoje, com fotografias da coleção
Masp-Pirelli, estabelecendo um diálogo entre as diversas coleções, suas
temáticas e origens geográficas. Há os precursores do modernismo e os
modernistas, como ?Retrato de Tarsila?, de Anita Malfatti (1889-1964); ?Retrato
de Assis Chateubriand?, de Flávio de Carvalho (1899-1973), e ?Autorretrato?, de
Victor Brecheret (1894-1955), conhecido pelo Monumento das Bandeiras. A
fotografia também marca presença, com parte importante da coleção que começou a
ser montada e organizada em 1991, incluindo obras de Claudia Andujar, com sua
série ?Yanomami? (1974), e imagens de integrantes do Foto Cine Clube
Bandeirante.
? Essa é uma parte da coleção do Masp, que conta com mais de 9 mil peças.
Está muito bem montada, com rastro forte na coleção italiana ? diz Moura,
fazendo referência à origem do acervo, que no início teve grande influência da
visão de Bardi. ? Agora, ela é mais ampla, vai de fora a fora, abrange um arco
temporal muito maior. Se for ver o que tem nos cavaletes, o forte é a figuração.
Aqui, há o desejo de contarmos essa história não apenas com arte europeia, mas
dialogando com outras coleções.
?Entre nós?
Onde: CCBB ? Rua Primeiro de Março, 66 (3808-2020). Quando: Qua. a seg., de 9h às 21h. Até 10/4. Quanto: Grátis.