BRASÍLIA – Os adolescentes brasileiros não gostam muito de fruta. Na lista do 20 alimentos mais consumidos nessa faixa etária, aparece no topo da lista a combinação arroz e feijão, considerada saudável. Mas daí para a frente, predominam produtos poucos saudáveis. As hortaliças ainda conseguem uma posição na lista (na décima colocação), mas não há lugar para as frutas.
Entre os meninos de 12 e 13 anos, as frutas ainda despontam como o 20º alimento mais consumido. Mas entre os meninos mais velhos (14 a 17 anos) e as meninas, elas estão ausentes. Por região, o consumo de frutas entre os adolescente é mais comum no Norte e Centro-Oeste, e menor do Nordeste e Sudeste. Os dados, divulgados nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde, fazem parte do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), feito em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foram ouvidos estudantes de 12 a 17 anos de 1247 escolas de 124 municípios.
Depois do arroz (alimento mais ingerido pelos adolescentes) e do feijão (o segundo), aparecem pães, sucos e carnes, todos consumidos por mais da metade dos adolescentes. Na sexta posição, com 44,97%, vêm os refrigerantes. Completam a lista, na ordem: doces e sobremesas, café, frango, hortaliças, massas, biscoitos doces, óleos e gorduras, tubérculos, salgados frios e assados, carnes processadas, bebidas lácteas, queijos e outros derivados do leite, biscoitos salgados, bolos e tortas.
Também preocupam o consumo de vitamina E e cálcio, que está abaixo do recomendado em todos os adolescentes, e a ingestão excessiva de sódio (presente do sal). Segundo o Erica, 80% dos adolescentes consomem sódio acima do recomendado. Além disso, menos da metade (48,5%) toma sempre ou quase sempre café da manhã, e 21,9% nunca tomam. Mais da metade dos adolescentes fazem refeições em frente à televisão. O índice é maior entre os alunos das escolas públicas. Ao todo, 73,5% gastam duas ou mais horas por dia com TV, computador ou videogame.
Dados divulgados anteriormente mostram que obesidade – que atinge 8,4% dos adolescentes – é mais comum entre os meninos (10,8%) do que entre as meninas (7,6%). O sobrepeso chega a 17,1%. Os índices são piores no Sul. Anualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta R$ 458 milhões para tratar problemas decorrentes da obesidade. Somente com internação de adolescentes, foram gastos R$ 126,4 milhões entre 2010 e maio de 2016. No mesmo período, o gasto com cirurgias bariátricas (de redução do estômago) alcançou R$ 233,1 milhões em todas as faixas etárias.
ADULTOS ESTÃO CONSUMINDO MAIS FRUTAS E HORTALIÇAS
Outro levantamento do Ministério da Saúde, o Vigitel 2015 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), mostra que há mais brasileiros adultos comendo frutas e hortaliças regularmente. Ainda assim, menos da metade tem esse hábito. Além disso, o consumem de doces e refrigerantes é considerado excessivo. Para fazer o Vigitel, o ministério ouve moradores das 27 capitais.
Em 2010, 29,9% dos adultos consumiam frutas e hortaliças regularmente. Em 2015, o índice passou para 37,6%. Em geral as mulheres comem mais esse tipo de alimento que os homens. A pesquisa revela que é alto o consumo de feijão: 64,8% o consomem cinco dias ou mais da semana. O hábito de substituir o almoço ou o jantar por lanches é comum a 15,5% dos brasileiros. O fenômeno é mais frequente entre os idosos e tende a crescer com o nível de escolaridade.
Alguns alimentos considerados pouco saudáveis também são bastante consumidos. Carnes com excesso de gordura (o que inclui frango com pele) costumam estar no prato de 31,1% dos brasileiros, principalmente entre os homens. Doces e sobremesas são consumidos quase todos os dias por 20,1% da população, em especial pelas mulheres. Outro dado da pesquisa é que 19% dos brasileiros bebem refrigerantes ou sucos artificiais quase todos os dias principalmente os homens.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, apresentou uma portaria para estimular a alimentação saudável no ministério e órgãos vinculados. Tantos as refeições nos restaurantes da pasta, quando nos eventos realizados dos órgãos, deverão ser priorizados cereais, raízes e tubérculos, verduras e legumes, frutas, castanhas e outras oleaginosas, leite e derivados, carnes, ovos e pescados. Além disso, fica proibida a venda de alimentos industrializados com excesso de açúcar, gordura e sódio.
Segundo Barros, a ideia é estender as regras para outros órgãos da administração federal. Para isso vai pedir adesão das demais pastas. O ministério também quer apresentar uma proposta no Congresso para ser aplicada às escolas públicas e privadas, a fim de que sejam ofertados apenas alimentos saudáveis.