Cotidiano

Aquecimento está matando o segundo maior lago do mundo

RIO — A redução na quantidade de pescado no Lago Tanganica, na África Oriental, é consequência do aquecimento, não apenas da pesca em excesso, indica estudo realizado por um time internacional de pesquisadores liderado pela Universidade do Arizona, nos EUA. O lago começou a se tornar mais quente ainda no século XIX, no mesmo período em que a quantidade de algas, que sustentam os peixes, começou a diminuir.

— Algumas pessoas dizem que o problema do Lago Tanganica é a existência de muitos barcos de pesca, mas o nosso trabalho mostra que o declínio na quantidade de peixes acontece desde o século XIX — disse Andrew Cohen, professor de Geociências da Universidade do Arizona e líder das pesquisas. — Nós podemos ver esse declínio no número de fósseis acontecendo em paralelo com o aumento da temperatura da água.

Segundo os pesquisadores, a relação entre a redução do estoque de peixes e o aumento da temperatura fica claro, até porque a indústria pesqueira só foi iniciada na região após a década de 1950. Localizado na divisa entre a Tanzânia, a República Democrática do Congo, o Burundi e a Zâmbia, o Lago Tanganica é o segundo maior do mundo em volume, atrás apenas do Baikal, na Sibéria. Ele produz cerca de 200 mil toneladas de peixe anualmente, e é responsável por 60% do consumo de proteínas da população local.

E o cenário se torna cada vez pior. O estudo indica que a temperatura das águas do lago começaram a subir na metade do século XIX, mas o aquecimento se acelerou no fim do século XX, a taxas não vistas nos últimos 1,5 mil anos.

O estudo indica que sim, a sobrepesca é uma das responsáveis pela redução dos estoques no lago. Contudo, o gerenciamento sustentável da pesca precisa estar atenta às mudanças no ecossistema provocadas pelo aquecimento das águas, que impacta a quantidade de algas, principal alimento dos peixes.

Os pesquisadores avaliaram o histórico ambiental do rio ao longo dos últimos 1,5 mil anos, com base nas camadas de sedimentos. A preservação do lago é importante por abrigar espécies únicas, além de ser principal fonte de proteínas da população da região.

— O aquecimento das águas superficiais provocam a perda de oxigênio no fundo, matando os animais que vivem lá, como caramujos de água doce — disse Cohen. — Esse declínio é visto nos dados coletados nas camadas de sedimento e é um problema maior para a conservação do Lago Tanganica e seu ecossistema único.