Cotidiano

Após reencontro, Avós da Praça de Maio exibem fotos dos netos

Foto Rolando Andrade03.jpgBUENOS AIRES – Uma semana depois de ter anunciado a descoberta do neto número 121, as Avós da Praça de Maio inauguraram em Buenos Aires a primeira exposição de retratos de vários dos netos encontrados desde que iniciaram sua busca, há mais de 40 anos. A mostra visa a estimular pessoas que tenham dúvidas sobre sua verdadeira identidade a realizar um exame de DNA no Banco Nacional de Dados Genéticos. O maior medo das avós, segundo confessou recentemente a presidente da ONG, Estela Carlotto, que encontrou seu neto, Ignácio Hurban, em meados de 2014, é ?morrer com os braços vazios?.

? Queremos encontrar netos com mais frequência porque não queremos que as avós morram com os braços vazios ? declarou Estela, ao confirmar que o neto 121, um médico de 40 anos cujo nome não foi revelado, conhecera sua família biológica.

Ele é filho de dois desaparecidos, sequestrados poucos meses após o golpe de 24 de março de 1976. Sua mãe, Ana Maria Lanzilotto, estava grávida de oito meses e teve seu filho no centro clandestino de torturas de Campo de Maio, na Grande Buenos Aires.

? Nosso objetivo é mostrar o resultado da extraordinária luta das avós. Queremos colaborar para que outros netos e netas procurem conhecer sua verdadeira origem ? disse ao GLOBO o fotógrafo Alejandro Reynoso, que fotografou 39 netos recuperados.

Segundo estimativas da ONG, ainda restam mais de 400 a serem encontrados.

? Queremos levar esta exposição a outros países. Já achamos netos fora da Argentina ? acrescentou o fotógrafo.

Por enquanto, confirmou Reynoso, o único destino internacional da mostra é Paris, onde chegará em janeiro.

Um dos netos fotografado é Ignácio Hurban, o músico que descobriu sua verdadeira identidade em agosto de 2014. Ele é filho de Laura, que está desaparecida, e neto de Estella Carlotto. Sua história deu a volta ao mundo, talvez por tratar-se do neto da mulher que iniciou a busca das avós e hoje continua à frente da ONG.

? Acho que esta é uma maneira de visualizar o que as avós fazem e a causa que defendem ? assegurou Ignácio.

Para ele, estas exposições ?são importantes porque permitem que as pessoas vejam o resultado de tanto esforço?.

Ignácio foi criado por um casal de trabalhadores rurais na cidade de Olavarria, a cerca de 300 quilômetros de Buenos Aires. O músico sempre os preservou e assegurou que seus pais adotivos não tinham informações sobre o que acontecera com sua verdadeira mãe. Hoje, mais de dois anos depois de ter conhecido Estela, ele faz questão de ajudar para que outros netos sejam encontrados.

? Minha história está participando de várias exposições das avós em diferentes cidades do país ? disse Ignácio.