RIO A temporada de eventos extraordinários da Lava-Jato chegou ao seu auge com os pedidos de prisão de Renan, Sarney e Jucá, mostrados na edição desta terça-feira do GLOBO. A revelação traz algumas perguntas, a serem respondidas nos próximos dias e semanas. Qual é o impacto desses pedidos na crise política? Quem será mais afetado por eles: Temer ou Dilma?
Ainda que os pedidos venham a ser recusados, o que se pode dizer no calor dos fatos é que o mainstream da política brasileira tem muito a perder, e não só quem está sob a ameaça de ver o sol nascer quadrado. A medida extrema joga um mar de lama sobre o cenário político e dá ao processo de impeachment um preocupante grau de incerteza.
Mas o fato de a medida atingir em cheio o PMDB do Senado cria problemas mais evidentes para Temer. É lá, afinal de contas, que se dará a batalha final do impeachment, prevista para agosto. A perda de ministros, justamente pela revelação das tentativas de barrar a Lava-Jato, já havia feito o presidente interino determinar a aliados, sem sucesso, que acelerassem o processo. Os episódios pressionam senadores indecisos ou que votaram pelo afastamento de Dilma a reverem suas posições.
Também atrapalha a tramitação de temas urgentes, sem os quais o peemedebista dificilmente conseguirá tirar a economia da UTI. Renan controla a pauta do Senado. Jucá, ministro até outro dia, ainda é o principal articulador político do governo. Sarney, desnecessário dizer, tem forte ascendência sobre parlamentares.
(Em tempo: o pedido de prisão de Eduardo Cunha tem o mesmo efeito na Câmara, onde, como vimos nos últimos dias, o presidente afastado ainda manda, e muito)
E mais: se Renan for afastado, como pede Janot, assumirá em seu lugar o petista Jorge Vianna (AC).
Dilma, porém, também enfrentará problemas. Ainda que sob desconfiança mútua, a petista ainda tem em Renan, que não se tromba com Temer, um importante aliado. Não à toa foi a Renan que ela recorreu para pôr na rua o plano de trocar votos contra o impeachment pela promessa de apresentar uma proposta de “Diretas Já”. Sem o presidente do Senado, não há nenhuma garantia de que a ideia avançará.
*Alan Gripp é editor de País