Cotidiano

Análise: Cautela e credibilidade, por Flávia Barbosa

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COPOM

RIO – A retomada da queda dos juros básicos pelo Banco Central (BC) era amplamente esperada. A dúvida era a magnitude do corte. Ao reduzir a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual, deixando guardadinha a opção do 0,5 ponto, a autoridade monetária deixou claro que vai operar com cautela.

São grandes as pressões para que o Comitê de Política Monetária (Copom) embarque num ciclo longo de redução dos juros. A economia emitiu sinais _ como demonstraram os indicadores de indústria, comércio e serviços de agosto _ de que a recessão persistiu no terceiro trimestre e o PIB não está reagindo. Empresários precisam de estímulo adicional para retomarem investimentos, transformando finalmente as positivas expectativas em produção e vendas. A inflação está cedendo. Os preços livres vêm caindo, notadamente os dos alimentos. Nas projeções, o IPCA para 2017 e para 2018 caminham com relativa consistência para o entorno da meta de 4,5%.

No campo fiscal, o governo aprovou em primeiro turno na Câmara, com folga, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, a do teto, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Ilan Goldfajn preside, porém, uma instituição cujas palavras caíram em descrédito no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

A desconfiança em torno do seu trabalho e em relação à disposição do governo de perseguir o equilíbrio das contas públicas implodiu. A diretoria do BC, na sala do Copom, sabe que não basta boa reputação individual para que seu trabalho coletivo surta o efeito esperado, que é ancorar as expectativas de inflação. É preciso que as condições para a queda se apresentem e se confirmem, para que o movimento de flexibilização da política monetária, em consequência, se sustente.

Desta maneira, o BC indicou, em metafóricas letras garrafais, para o que está olhando: os dados. Não haverá voluntarismo para um empurrãozinho na economia, ou uma ajudazinha à dívida pública. Seus movimentos dependerão do Congresso e do setor de serviços. O primeiro deve concluir a votação do ajuste fiscal, o quanto antes. O segundo precisa de uma descompressão maior, após os anos de reajustes superlativos de preços. Idas e vindas são indesejáveis, e por isso o Copom agiu com prudência. Mesmo deixando aberta a janela para corte de 0,5 ponto em novembro, parece ter adotado como lema o dito “devagar e sempre”. Tem nome o jogo do BC: credibilidade.

*Flávia Barbosa é editora de Economia do GLOBO