Cotidiano

Alojamento é incendiado durante princípio de rebelião em unidade do Degase em Bangu

RIO — Adolescentes do Educandário Santo Expedito, que pertence ao Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), em Bangu, na Zona Oeste do Rio, protagonizaram um princípio de rebelião na unidade. No tumulto, que ocorreu na noite desta segunda-feira, ao menos um dormitório do módulo seis foi incendiado. Para isso, cerca de seis adolescentes atearam fogo em colchões, roupas e utilizaram faíscas de fios desencapados para dar início às chamas. Ao perceberem a ação, agentes foram acionados para o local e, depois de serem atacados pelos autores da confusão, conseguiram controlar a confusão. O alojamento ficou completamente destruído pelo fogo. Os jovens envolvidos no motim foram encaminhados para a 34ª DP (Bangu), onde o caso foi registrado.

No educandário, cada módulo possui quatro alojamentos que, segundo agentes do Degase, estão superlotados, quadro similar em outras unidades. Ainda de acordo com os agentes, apesar de ainda não haver informações sobre o que motivou o motim, o fato pode estar relacionado com a rebelião ocorrida em um presídio em Itaperuna, no Norte Fluminense, no último domingo.

— Os agentes conseguiram controlar (o tumulto em Bangu), embora o incêndio tenha atingido uma proporção grande. Se eles não tivessem agido, adolescentes ficariam feridos no local — disse João Luiz Pereira Rodrigues, presidente do sindicato de servidores do Degase, que complementou: — De antemão (é possível afirmar) que houve um atrito dos internos com a questão disciplinar, já que eles chegam às unidades querendo impor regras paralelas.

Ninguém ficou ferido durante a rebelião. Os seis adolescentes levados para a delegacia foram autuados por ato infracional de dano ao patrimônio público.

‘MANUAL DE CONVIVÊNCIA DE FACÇÃO CRIMINOSA’

Nesta terça-feira, após a realização de perícia no local, os agentes fizeram uma vistoria nos alojamentos da unidade em busca de materiais ilícitos. Durante a procura, eles encontraram um papel, onde estavam relacionadas 'normas de convivência', segundo uma facção criminosa do Rio. Na lista com 27 itens, estão desde regras de vestimenta para os internos e para os familiares que os visitam, até regras de convívio, como, por exemplo, sempre levar outro interno quando for falar com algum agente, para que a conversa seja testemunhada; ou falar sempre no mesmo tom que outro jovem da unidade.

Segundo funcionários que atuam em unidades do Degase, são “raros” os casos em que os internos não estejam ligados a alguma facção criminosa. Quando isso acontece, eles são conduzidos para alojamentos chamados “seguros”, destinados a menores jurados de morte por crimes contra determinada facção ou repudiados pelos outros internos. Dentro da própria lógica dos internos, o não cumprimento dessas “regras” acarretaria sanções, como expulsão do alojamento e até surras que os adolescentes aplicadas por outros internos.

— Os agentes atuam em situações adversas. As unidades do Rio estão superlotadas. Esses profissionais lidam com adolescentes e até mesmo maiores de idade, antes de completarem 21 anos — afirmou Rodrigues. — Os agentes lidam com os menores que atuam em facções criminosas e isso se reflete dentro das unidades. É preciso separá-los por facções criminosas, porque se ficarem misturados eles se matam.