BRASÍLIA – Declarações do relator Herman Benjamin na noite de sexta-feira, ao final da acareação entre executivos da Odebrecht, foram interpretadas por advogados presentes que o episódio do jantar no Jaburu para definição de doação ao PMDB pode não ser um caso que complique a situação do presidente Michel Temer no processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso porque, ao final, Benjamin pediu esclarecimentos aos executivos da Odebrecht se durante as conversas sobre os recursos destinados ao PMDB havia a menção sobre repasse à campanha eleitoral e e ouviu a resposta que não.
Diante da negativa dos executivos, o ministro teria reagido com comentário encerrando a acareação: então esse episódio terá que ser tratado em outro momento. Para os advogados isso é o sinal de que como o dinheiro não é uma doação para a chapa presidencial, não seria uma prova contra Temer.
Benjamin encerrou a acareação entre Marcelo Odebrecht, dono da empresa, e Cláudio de Melo Filho, executivo, com perguntas específicas. A atitude surgiu depois que advogados ligados a Temer reclamaram do comportamento do advogado do PT, Flávio Caetano.
Marcelo Odebrecht e Claudio Melo foram chamados para fazer sobre encontro com o então vice-presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu e as conversas sobre repassados ao PMDB. Os dois, segundo relato dos advogados, admitiram o repasse dos R$ 10 milhões ao PMDB, mas disseram que o dinheiro não teria ido para a campanha presidencial.
O ministro quis saber se em algum momento das conversas se disse que esses recursos seriam para a chapa Dilma Temer e eles disseram que não.
Benjamin então fez uma segunda pergunta, se no jantar em algum momento se teria feito menção à divisão desse dinheiro: se em doação, caixa dois. Os dois, segundo relatos, disseram que isso não foi conversado com Temer e sim tratado depois por “outros”.
O ministro concluiu afirmando que, se os repasses não tinham relação com a campanha presidencial, o caso deveria ser investigado em outro local. E encerrou a acareação.
É todo esse diálogo que levou os advogados a valiar que essa parte pode ser separada. Foi o ministro licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha, quem tratou da divisão de pelo menos R$ 4 milhões dos R$ 10 milhões repassados a campanhas estaduais. Padilha foi procurado pelos executivos depois que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reclamou aos integrantes da Odebrecht que não estava recebendo o dinheiro prometido.
Padilha então disse que falaria com Cunha para saber o que estava ocorrendo. Segundo as investigações, Padilha deu senhas para identificar o repasse, que ocorreu em parcelas. O último foi de R$ 500 mil, em outubro de 2014.
Padilha retorna à Brasília nesta segunda-feira, depois de 19 dias longe de Brasília. O ministro fez uma cirurgia de próstata no dia 27 de fevereiro e queria retornar no último dia seis, mas o procedimento foi mais complicado do que o esperado. Além disso, surgiram as declarações do advogado José Yunes, amigo do presidente Temer e que declarou ter recebido um pacote a mando de Padilha. Abatido e com problemas de saúde, Padilha pediu licença médica.
Dentro do PMDB, há uma avaliação que Yunes implicou Padilha justamente para “blindar” Temer, deixando toda a responsabilidade para o ministro gaúcho.
Na acareação, Marcelo Odebrecht falou por videoconferência e Cláudio Melo Filho estava no próprio TSE. O ministro relator ouviu sete pessoas ligadas à empreiteira Odebrecht que prestaram depoimento como testemunhas. A lista ainda incluiu a ex-secretária Maria Lúcia Tavares, que denunciou o chamado ?departamento de propina? da empresa e cujos dados estavam na Suíça.