Cotidiano

Acusação do Uruguai contra Serra causa bate-boca no Congresso

BRASÍLIA – A declaração dada pelo chanceler uruguaio, Rodolfo Novoa, que o governo brasileiro teria tentado “comprar voto” do Uruguai para impedir que a Venezuela assumisse a presidência pro tempore do Mercosul causou uma bate boca no Congresso entre governistas e oposição no Senado. Na Câmara,o líder do PT, Afonso Florence (BA), protocolou um requerimento de convocação do ministro das Relações Exteriores, José Serra, para que preste ?pessoalmente?, no plenário da Casa, explicações sobre a denúncia, publicada no jornal no jornal El Pais, de Montevidéu.

A discussão começou quando o senador José Aníbal (PSDB-SP) apresentou requerimento pedindo que fosse aprovado um “voto de aplauso ao governo brasileiro e ao ministro das Relações Exteriores, José Serra, pela decisão de não reconhecerem a Presidência pro tempore da Venezuela no Mercosul”. Segundo Aníbal, que assumiu no lugar de Serra quando ele virou ministro, a proposta tinha a assinatura de 29 senadores. O debate foi tão acalorado, que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ligou para Serra, que, segundo ele, desmentiu que tenha pressionado o Uruguai a não repassar o comando aos venezuelanos.

? Fizemos contato com o senador José Serra logo após a leitura da notícia aqui. Queria esclarecer, primeiro, que o senador José Serra desmente enfaticamente que tenha havido qualquer negociação em relação à Venezuela nas conversas que teve na Chancelaria no Uruguai. Ele, inclusive, convocou, convidou a seu gabinete o embaixador do Uruguai no Brasil, que esteve presente na conversa. O nosso colega e chanceler simplesmente desmente a notícia. Mas estávamos até agora a reboque dos bolivarianos e ele está fazendo o que se está pedindo dele ? disse Jereissati.

O requerimento não foi votado. Mas o debate se manteve por um bom tempo. A primeira a contestar foi a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), acusando o governo Temer de “golpista” também no caso do Mercosul.

? Não é possível que o chanceler brasileiro, que uma parte do governo brasileiro se coloque contra as regras estabelecidas no Mercosul, que tem um rodízio da sua Presidência. Não há nada que impeça, hoje, a Venezuela de presidir o Mercosul. Não é possível que este governo interino, que está dando um golpe do Brasil, queira também exportar esse golpe para nível do Mercosul ? alfinetou a petista.

José Aníbal rebateu:

? O governo brasileiro acertou ao não reconhecer a Presidência Pro Tempore da Venezuela no Mercosul. Nenhuma medida foi deliberada até aqui. O que existe é uma recusa de Brasil, Argentina e Paraguai em deixar que a Venezuela tome de assalto o Mercosul, como fez com a ALBA ? disse José Aníbal.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) ganhou aplausos dos petistas ao criticar Serra, falando como presidente da delegação brasileira do Parlasul.

? Quero pedir desculpas ao Uruguai pelo comportamento absolutamente indevido do chanceler e da chancelaria brasileira. Está transformando a política externa do Brasil em chacota, com uma intervenção absolutamente sem sentido em um tratado que não comportaria, de forma alguma, esse tipo de intervenção. Um comportamento inadequado e incoerente do chanceler brasileiro ? disse Requião.

? É uma proeza, José Serra é um gênio: conseguiu brigar com o Uruguai. E o pior, ainda com a proposta de corromper os uruguaios com o voto para impedir que a Venezuela assuma a presidência. Isso é lamentável. Não só peço desculpa como quero dizer que eu estou envergonhado. O Brasil não merece isso que estamos vendo hoje na nossa política externa ? acrescentou o líder do PT no Senado, Humberto Costa.

Já o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), defendeu o requerimento de apoio a Serra.

? Se há algo que estamos recuperando no país é exatamente a política internacional, a maneira lúcida, preparada e competente do senador José Serra em discutir aquilo que temos que ter a coragem de discutir, enfrentar esses tiranos ditadores da América Latina que acham que podem implantar bolivarianismo ? disse Caiado.

Serra recebeu o apoio do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Ele disse que Serra foi alvo de ataques “duros e indelicados”.

? Rechaço, em nome do partido do ministro José Serra, de forma absolutamente clara, as acusações indevidas a ele aqui feitas, e reafirmamos não só a nossa confiança, mas o nosso aplauso à forma altiva e independente com que Serra vem conduzindo a política externa brasileira. Fica aqui uma palavra de desagravo ao Ministro José Serra e de reconhecimento pelo extraordinário esforço que vem fazendo para tornar o Brasil novamente respeitado no conceito das nações ? disse Aécio.