RIO Com o uso de um poderoso equipamento de raio-X, pesquisadores da Galeria Nacional de Vitória, na Austrália, descobriram uma obra pintada pelo célebre artista francês Edgar Degas há cerca de 140 anos. O retrato de uma mulher, provavelmente Emma Dobigny, uma das modelos favoritas dos artistas franceses do século XIX, estava escondido por baixo de uma outra pintura, também do impressionista Degas.
Foi uma descoberta muito emocionante disse David Thurrowgood, conservador na Galeria Nacional de Vitória, na Austrália, onde a pintura está exposta. Não é todo dia que uma nova pintura de Degas é encontrada, neste caso, escondida bem na nossa frente.
Desde o início do século passado que a técnica de underpainting uso de uma camada inicial de pintura que serve de base para outras é conhecida, mas o retrato feito por Degas só pode ser descoberto agora, graças a uma nova tecnologia. Tentativas anteriores revelaram nada mais que fracos contornos. Por esse motivo, por muito tempo pensou-se ser impossível descobrir o que estava por trás do quadro.
O equipamento usado agora é conhecido como Síncroton Australiano, que é basicamente um acelerador de partículas que gera radiação para obter imagens de alta resolução em pesquisas, terapias ou análises forenses. A luz produzida é um milhão de vezes mais brilhante que o Sol, muitas ordens de magnitude maior em potência e intensidade em comparação com os raios-X padrão, como os de hospitais, disse à AFP o especialista no equipamento e coautor do estudo publicado na Scientific Reports, Daryl Howard.
Por causa da luz brilhante, somos capazes de revelar detalhes estruturais sem precedentes de qualquer material acrescentou Howard.
A MODELO EMMA DOBIGNY
Os pesquisadores foram as primeiras pessoas desde Degas a contemplar o rosto da sua modelo. Comparando a imagem revelada com outras pinturas, eles concluíram que se tratava, provavelmente, de um retrato previamente desconhecido de Emma Dobigny. A modelo, cujo nome verdadeiro era Marie Emma Thuilleux, posou para Degas em 1869 e 1870.
Observamos uma forte semelhança entre o underpainting revelado e vários retratos que Degas fez de Emma Dobigny, escreveram os autores do estudo.
De acordo com o ex-diretor do Museu do Louvre Henri Loyrette, um renomado especialista em Degas, é completamente possível que o rosto pertença a Dobigny. Contudo, o nome da mulher vestida de preto que a suplantou na tela permanece desconhecido. O retrato, que data de alguns anos depois do original, por volta de 1876-1880, é intitulado simplesmente Portrait de Femme (retrato de uma mulher).
PROCESSO DUROU 33 HORAS
Degas não tinha aplicado uma nova camada de base, e usou finas camadas de tinta à base de óleo que estão agora perdendo o seu poder de cobertura, permitindo que Dobigny comece a aparecer, disseram os autores. Os pesquisadores utilizaram o Síncroton para criar onze mapas da tela original, cada um de um elemento metálico diferente dos pigmentos que Degas usou, incluindo arsênico, cobre, zinco, cobalto e mercúrio. O processo levou cerca de 33 horas.
Juntos, os mapas elementares fornecem uma reconstituição detalhada, revelando inclusive os movimentos das pinceladas do artista. As cores, no entanto, tiveram que ser inferidas.
O cobalto está provavelmente presente na forma de um pigmento azul, que ajuda a definir tons de pele, escreveu a equipe, enquanto o mercúrio é predominante na área facial e muito provavelmente corresponde a um pigmento vermelho, que contribuiria para um tom de pele rosado.
Uma seção borrada no cabelo de Dobigny sugere que Degas tinha feito várias tentativas de remodelar uma orelha excessivamente pontuda, como a de um duende, um truque pelo qual ele era conhecido na época.
Pinturas ocultas, composições originais que foram escondidas por trabalhos subsequentes, são conhecimentos importantes sobre obras e artistas, escreveram os pesquisadores.