Cotidiano

54 mil MEIs buscam um lugar ao sol

Cascavel – Você sabe o que é um case? Se você é uma pessoa bem-sucedida naquilo que faz você é um case de sucesso. A palavra em inglês que significa caso nunca esteve tão na moda nem tão desejada. Não por acaso, os cases bem-sucedidos são cada vez mais exemplificados e replicados nos meios de fomento ao empreendedorismo, sejam elas nas academias ou no mundo corporativo.

A Lei do Microempreendedor Individual, sancionada há nove anos, é um reflexo que até quem se formalizou no diminutivo pode ser um caso de sucesso graças ao processo que desburocratizou os serviços e suas relativas prestações. E como eles estão presentes neste meio. Questionado sobre indicação de casos de sucesso de MEIs na região, o consultor do Sebrae/PR na regional de Cascavel Willian Braga Tomaz devolve a pergunta: “Depende de que área e da forma de sucesso você quer, são tantos, em que setor seria?”

Entre os exemplos está o de Isaías Soares Nere. Ele é um MEI que se transformou em um fornecedor do serviço com direito a vencer licitação e tudo. Jardineiro por profissão há oito anos, há quatro anos embarcou na Lei do Microempreendedor. Precisava se formalizar. “Muita gente pedia nota e eu não tinha como fornecê-la. Eu me tornei um MEI e não volto mais atrás. Com a profissão sustento a família e estou crescendo longe de tanta burocracia e do pagamento de tantos tributos”, destacou.

Na disputada lista de clientes está o próprio Sebrae, além de empresas de todos os portes e as pessoas físicas, aquelas que precisam cuidar da grama, dar uma olhadinha diferenciada para as flores ou simplesmente criar um jardim com manutenção e paisagismo. “Até o momento, o MEI está suprindo minhas necessidades como empreendedor, mas quero crescer e quem sabe abrir uma microempresa, empregar mais gente”, ressalta o jardineiro, que aos 28 anos sonha alto.

Na região, o número de MEIs, segundo o Portal do Empreendedor, não avançou muito neste ano. Nos 50 municípios do oeste, o acréscimo de formalizações no último ano foi de algo em torno de 4%. Saíram de 51.686 em outubro do ano passado e chegam agora a 53.758.

A consolidação

O avanço poderia ser considerado pequeno se alguns fatores não fossem levados em consideração. Dentre eles, destaque para as baixas dadas pelo próprio governo federal, a partir da Receita Federal, de MEIs que ficaram inadimplentes com o sistema nos últimos anos. No Brasil todo foram quase 1,5 milhão de baixas, no oeste eles somam algo em torno de 2,5 mil.

Onze municípios do oeste ainda contabilizam nas suas Salas do Empreendedor – canal criado geralmente na estrutura dos municípios para aconselhamento, indicação de capacitação e apoio gratuito ao microempreendedor – queda no número de formalizações. “Esse é um reflexo da baixa dada pela Receita Federal no início do ano, mas, se observarmos no contexto geral e na soma das que foram fechadas, ainda temos mais MEIs agora do que no ano passado. Sinal de que muitas continuam se formalizando”, reforça o consultor do Sebrae/PR Willian Braga Tomaz.

Da necessidade para a oportunidade

Dentre os aspectos que chamam a atenção, se em um dado momento o maior número de empreendedores se dava pela necessidade, sobretudo com o acirramento da crise de 2015 a 2017, quando a região fechou centenas de vagas formais, hoje a abertura de MEIs na região se dá metade pela necessidade e metade pela tão sonhada oportunidade.

Gente que decidiu ser dona do próprio nariz, se capacitou, está em busca de aprimoramento, quer crescer e está estruturada para o negócio. Do contrário, empreender pela necessidade está diretamente associado à perda de um emprego formal e à dificuldade de colocação no mercado, extraindo assim sua renda das próprias habilidades, por vezes, sem preparo nem entendimento de mercado. “Empreender por oportunidade é muito positivo porque representa estimular as habilidades, estar qualificado para isso, enxergar as oportunidades estando preparado para elas. Outro aspecto que se observa é que os MEIs estão dando sequência aos seus negócios, claro que uma parte se formaliza apenas para contribuir [com o INSS], mas a maioria está em plena atividade, mantendo seus tributos em dia e se vendo como uma empresa”, resume.

A caminho da recuperação

Em Céu Azul, onde houve a maior baixa percentuais de registros de microempreendedores individuais do ano passado para cá, a informação do coordenador da Sala do Empreendedor, Maicon Eduardo Machado, é de que mais de 150 cadastros de microempreendedores individuais foram baixados no início do ano. Ocorre que depois disso a recuperação já teve início. “Todos os meses atendemos cerca de 40 pessoas na sala para prestar esclarecimentos, orientações e desde janeiro formalizamos 60 novos MEIs”, conta.

Na outra ponta, o município com maior acréscimo de MEIs, em percentuais, é Iguatu, com avanço de 35% novos microempreendedores individuais. Em outubro de 2017 eram 45, agora são 61. Pode parecer pouco, mas para uma cidade com apenas 2,3 mil habitantes, o dado impressiona. Para o Município, esse é o reflexo da migração da informalidade para trabalhadores que passaram a ser vistos pelos olhos do governo.

Em números globais, Cascavel responde pela maior fatia de MEIs do oeste. Dos 53.758 cadastrados na região, o Município tem 11.269, o que equivale a 21% do número global.

O caminho da dignidade profissional

Em um universo de mais de 200 mil trabalhadores na informalidade na região oeste, segundo dados estimados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social do Paraná) para este ano, a desburocratização pela formalização, de modo que esse trabalhador passe a ser enxergado pela sociedade e deixe as estatísticas dos desalentados ou informais, o consultor do Sebrae Willian Braga Tomaz reforça que os caminhos estão abertos, são acessíveis, o Sebrae oferece consultoria gratuita e é parceiro das Salas do Empreendedor para lapidar o profissional ou simplesmente lhe oferecer uma direção a seguir. “O primeiro caminho, para quem quer se tornar um MEI, é analisar aquilo que possui de habilidade, vocação. Ver se ele se encaixa na proposta e, tão importante quanto isso, é o desejo de empreender, ter o espírito de empreendedor, ter vontade e seguir adiante”, lista.

O processo para abertura de uma MEI é simples, rápido e praticamente sem burocracia. Ela pode ser feita pela internet, de casa mesmo, no Portal do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.gov.br), leva poucos minutos e está tudo pronto. O outro passo é ir à Sala do Empreendedor da sua cidade com documentos pessoais. O processo leva menos de dez minutos. Também nas salas são oferecidas as orientações sobre pagamento de tributos, emissão de notas, declarações e a atuação propriamente dita.