RIO ? A popularização dos smartphones provocou uma revolução sem precedentes na possibilidade de acesso à internet, que foi aproveitada sobretudo pela parcela mais jovem da população. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online 2016, referente ao ano passado, 80% dos brasileirinhos entre 9 e 17 anos já acessam a rede, sendo 83% deles pelo celular. Por outro lado, o levantamento revela que muitos estão sendo deixados para trás. São cerca de 5,9 milhões de crianças e adolescentes que estão fora do mundo digital, e o perfil socioeconômico é determinante nessa exclusão.
? Proporcionalmente, pode parecer pouco, mas temos que levar em conta que são crianças em idade escolar que estão sendo impedidas de desenvolver diversas habilidades proporcionadas pela tecnologia ? diz a coordenadora da pesquisa, Maria Eugênia Sozio. ? Entre as 5,9 milhões de crianças não usuárias, estão 3,4 milhões que nunca tiveram acesso à rede, que são completamente excluídas.
O estudo revela que 15% dos entrevistados disseram não acessar a internet por não terem acesso à rede em casa, mas esse percentual chega a 30% entre os moradores de zonas rurais; 31% entre a população da região Norte; e os mesmos 31% entre os que pertencem a famílias das classes D e E.
E é exatamente para esta parcela da população, com menos capacidade para investimentos, que o celular aparece como boia de salvação. Entre as crianças e adolescentes que acessam a internet, 31% o fazem apenas pelo smartphone. O percentual atinge maiores índices na zona rural (41%); na região Norte (53%) e em famílias das classes D e E (55%). Dessa forma, diz a pesquisadora, o acesso às possibilidades educativas fica limitado aos pacotes populares oferecidos pelas operadoras.
? A pesquisa não capta, mas nós sabemos que alguns pacotes oferecem apenas o acesso às redes sociais, e isso restringe as possibilidades de aprendizado com a internet ? aponta Maria Eugênia.
E essa tendência, de acesso à rede por dispositivos móveis, apresenta um novo desafio aos pais e responsáveis. Pela primeira vez em quatro edições da TIC Kids, o percentual de jovens internautas que acessam a internet de casa apresentou tendência de queda, de 90% para 86%. O velho computador de mesa, que ficava na sala à vista da vigilância dos pais está em extinção: apenas 38% disseram usar o desktop como porta de acesso, contra percentual de 71% há apenas dois anos.
Com o celular na mão, o acesso se dá a qualquer hora, de qualquer lugar, e várias vezes ao dia. No estudo divulgado no ano passado, referente ao ano de 2014, apenas 21% dos jovens internautas diziam acessar a rede mais de uma vez ao dia, o que indicava a imposição de restrições. Agora, o percentual triplicou, para 66%.
? A emergência dos dispositivos móveis traz uma configuração nova para a estratégia de mediação parental, que ficam, de fato, mais complicadas ? diz Maria Eugênia. ? De qualquer forma, a estratégia de restrição e monitoramento nunca se mostrou muito efetiva. O ideal é que a criança desenvolva junto com pais e educadores formas de lidar com os riscos oferecidos pela rede.