Ajudar, auxiliar, assistir, colaborar, acolher, apoiar, assessorar, contribuir. Esses são alguns dos sinônimos de um termo que nunca esteve tão em alta: o de cooperar.
E cooperar é um verbo que conjugado há décadas numa receita promissora. É na equação obtida a partir dos erros e dos acertos que se ajeitou o ritmo e se alcançou os sonhos de quem está disposto a cooperar para transformar a economia e promover o desenvolvimento.
Tanto, que hoje não é possível pensar na região oeste sem as cooperativas.
A crise vivida pelo País nos anos 80, a inflação galopante, a perda do poder de compra, foram fatores decisivos para que as cooperativas reforçassem um processo de consolidação que por duas décadas já tomava conta do Brasil para a estrutura como conhecemos hoje. Ao observar que juntos tinham mais força e vantagens, aos poucos cooperar se tornou um exercício vantajoso e de desenvolvimento. Não por acaso, este sábado (7) é para celebrar o Dia Internacional do Cooperativismo. Data para lembrar a importância que adquiriu na nossa história.
Anos após ano, conquista após conquista, a região oeste se tornou referência de cooperativismo quando o assunto é o agronegócio, aquele que coloca a comida na mesa das pessoas dentro e fora do Brasil. As cooperativas daqui chegam longe. Graças à abertura comercial mais intensa nos anos de 1990, a produção do oeste ganhou o mundo e hoje chega a pelo menos 150 países. É o sotaque do interior e o pé vermelho matando a fome das pessoas pelo mundo afora.
Em números
Com solos férteis e a vocação natural para a pecuária de aves – o oeste tem o maior plantel brasileiro -, e de suínos – o segundo maior plantel estático do País – e a cadeia leiteira – auxiliando o Paraná a ser o segundo maior produtor do Brasil -, a região conta hoje com 15 cooperativas ligadas ao Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná).
Os números mais impressionantes vêm agora: o faturamento delas juntas chegou ano passado a incríveis R$ 22,551 bilhões. Se o crescimento para este ano, estimulado pela valorização das commodities e dos preços no mercado internacional, projetado entre 8% e 10%, se confirmar, as cooperativas agropecuárias da região podem faturar R$ 25 bilhões em 2018. É evidente que isso deve vir com margens menores de lucratividade, mas esse é um sinal que a roda da economia cooperativista não está estacionada.
Hoje, somente as bases cooperativistas consolidadas na região respondem por 32% do faturamento de todas as cooperativas do Estado, que fechou na casa dos R$ 70 bilhões/ano.
Caminhando para os R$ 100 bi em faturamento
Para o gerente técnico e econômico do Sistema Ocepar, Flávio Turra, a meta é ousada: em 2021, faturar R$ 100 bilhões. É o chamado PCR 100 (Paraná Cooperativo 100). Isso inclui todas as estruturas cooperativistas no Paraná. A colaboração das cooperativas agropecuárias do oeste deve ser de R$ 32 bilhões.
“O oeste é uma região onde o cooperativismo se desenvolveu muito com grandes investimentos na industrialização dos produtos primários, com agregação de valor à produção e não vai parar por aí. Existem plantas sendo ampliadas e temos a conquista de novos mercados”, reforçou Turra.
Isaias Orçatto é um cooperado das antigas, mas moderno e que aprendeu na prática a valorizar a tecnologia. Há quase quatro décadas está ligado à Coopavel, em Cascavel, para quem entrega soja, milho e trigo e não se arrepende: “A cooperativa me auxilia muito, com assistência técnica de ponta que resulta em aumento na produtividade. Quando iniciamos, eu colhia 60 a 70 sacas de soja por alqueire e era o máximo. Hoje colhemos 140, 150 sacas por alqueire graças à tecnologia e à assistência técnica”.
Com cerca de 150 hectares destinados ao cultivo de grãos, Isaias entrega todos os anos na cooperativa cerca de 15 mil sacas de grãos, das quais entre 8 mil e 10 mil de soja. “Não tenho como armazenar para vender no momento mais propício, e, com os silos da cooperativa, deixo guardado aquilo que quero vender no melhor momento. Para mim, ser um cooperado é um caminho sem volta e de muita gratidão”.
Cooperados e funcionários somam quase 100 mil pessoas
A exemplo do agricultor Isaias Orçatto, as cooperativas do agronegócio têm na região 54.058 cooperados, segundo dados do Sistema Ocepar.
Além da cadeia bilionária, elas geram 45.394 empregos diretos, de longe o setor que mais emprega no oeste. Para se ter dimensão do que elas representam à economia no oeste paranaense, a segunda colocada em geração de emprego e renda são as de crédito, com faturamento de quase R$ 1,5 bilhão e quase 3 mil funcionários e um total de 384,5 mil cooperados.
Os desafios a serem vencidos
Dentre os principais fatores a serem vencidos pelas cooperativas da região está o elevado custo de logística. “Isso gera um impacto do frete em produtos com valores agregados”, explica Flávio Turra.
Para o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, os impactos somente com os pedágios levam do setor produtivo do oeste e do sudoeste cerca de R$ 300 milhões por ano. “Não temos ferrovia com capacidade para escoar a produção, então ficamos na dependência do transporte rodoviário. Isso encarece muito a produção”.
A economia cooperativista também sofre influências externas. Neste ano, sobretudo, a greve dos caminhoneiros e o consequente encarecimento do frete têm emperrado novos contratos, principalmente para as exportações. “Esse prejuízo dificilmente será recuperado neste ano, pois já vínhamos trabalhando com margens espremidas e essas perdas são difíceis de serem recuperadas”, alerta o diretor da Frimesa, Elias Zydek.
Para Flávio Turra, os momentos de dificuldades de mercado devem ser vencidos em um futuro não muito distante, com a tendência do crescimento de produção de carnes e de projetos que hoje estão em maturação, como a concretização de novas plantas industriais e os novos mercados a serem conquistados. Essas expectativas devem se concretizar em quatro ou cinco anos.
Análise do mercado
Apesar dos contratempos, o saldo do agronegócio cooperativista é positivo. Em 2016, os preços elevados das commodities tiveram um comportamento muito parecido com o que se está vivendo em 2018 quando o assunto é a valorização dos grãos. Lá se observou um bom crescimento no faturamento das cooperativas, em especial com a venda do milho e da soja.
Em 2017 a situação foi diferente. Com a supersafra, os preços dos cereais baixaram e por conta disso muitos produtores seguraram a produção para vender depois. O depois chegou em 2018, quando a valorização dos grãos foi uma realidade influenciada pelo câmbio elevado.
O câmbio mais elevado também favorece as exportações, mas aqui cabe um adendo: por enquanto esse mercado está em acomodação diante do tabelamento do frete pelo governo e que tem encarecido cerca de 55% o transporte a granel do oeste até o Porto de Paranaguá. “Mesmo assim, a sinalização é para que neste ano tenhamos um crescimento positivo no faturamento das cooperativas que deve girar em torno de 8% a 10%, ou seja, bem acima da inflação, mas as margens serão menores por conta do custo de produção mais elevado, da greve dos caminhoneiros, dos problemas com os fretes. Mas a aposta é que até o fim do ano melhore para o setor”, destacou Flávio Turra.