Cotidiano

Secretário de Administração Penitenciária chora e nega acordo com facção

RIO – Com a voz embargada e sem conter as lágrimas, o secretário de Administração Penitenciária,o coronel Erir Ribeiro Costa Filho, negou, na tarde desta quinta-feira, acordo com uma facção criminosa para selar a paz nos presídios do estado. De acordo com ofício encaminhado pelo juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Eduardo Oberg, ao governador interino Francisco Dornelles, o secretário tentou impedir a transferência de 15 detentos que resgataram Nicolas Labre de Jesus, mais conhecido como Fat Family, do hospital municipal Souza Aguiar, no último dia 19. Costa Filho disse que vai processar o magistrado.

Durante sessão da Comissão de Segurança Pública da Alerj, o secretário se disse desapontado com Oberg e chegou a mencionar que o juiz havia lhe presenteado com caixas de uísque após retornar de uma viagem do exterior.

– Não sei com quem estou lidando. Ele bota no documento que eu fiz proposta para que não fossem presos transferidos. Eu não decido. Só cumpro. Dos 15 presos, a determinação não passou pela secretaria, passou direto pelo coordenador. Chegou a ordem para transferir para Bangu 1, transfere. Eu não sabia nem que eles seriam transferidos. A Seap não participa dessas decisões. Só cumprimos – disse o secretário.

Segundo o jornal “O Dia” desta quinta-feira, uma reunião na cela B7 da Penitenciária Doutor Serrano Neves, em Bangu 3, entre a ‘comissão’ da facção criminosa e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, foi proposta por Costa Filho.

Apesar de negar acordo com bandidos, o secretário disse que conversa com os presos. Costa Filho também admitiu um erro administrativo na transferência dos presos que aconteceu com mais de uma hora de atraso, apesar dos riscos envolvidos. A informação foi revelada pelo GLOBO na terça-feira. O coordenador da Operação da Seap, Marcos Ferreira de Lima, responsável pelo fornecimento dos veículos de transporte, teria dormido até mais tarde e perdido a hora, como alegou ao chegar ao local onde 75 policiais e um helicóptero o aguardavam.

– Aconteceu atraso na saída do comboio, mas não causou prejuízo. Foi um erro administrativo.

DESAGRAVO AO SECRETÁRIO

A audiência foi marcada pelo tom de desagravo ao secretário. A Comissão de Segurança aprovou um pedido de convite para que o magistrado compareça à Casa. A data ainda não está definida.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Marcelo Freixo, defendeu Costa Filho com veemência.

– Isso não deveria ser elogio, mas eu quero dizer que o senhor é uma pessoa série e honesta, o que é uma exceção neste governo. E isso hoje em dia é muito importante.

Paulo Ramos (Psol) chegou a chamar o magistrado de leviano.

– Ele (Oberg) aproveitou o caso Fat Family para aparecer. Deu essas declarações irresponsáveis. Mas só dá ordens, não fica dentro dos presídios. É ele (Oberg) que deve se explicar – disse o deputado.

O deputado Zaqueu Teixeira (PT), que é delegado de polícia, adotou tom semelhante. Zaqueu criticou a existência de apenas uma VEP no estado:

– Não se vê rebelião nos presídios. Percebe-se o avanço de um processo de humanização no sistema prisional. O que é absurdo é a existência de apenas uma VEP para cuidar de 50 mil presos. Isso é que precisa ser revisto. Não dá para concentrar poder em apenas uma única pessoa – afirmou Zaqueu.

O deputado Iranildo Campos, do PSD, também elogiou o coronel. Num rompante de sinceridade, Campos chegou a dizer que o secretário devia andar com um porrete dentro do complexo penitenciário de Bangu para dar pauladas nos detentos.

– Eu sei do seu caráter. Hoje não tem mais brincadeira dentro dos presídios, que contam com 49 mil presos, mas tem mais uns 50 mil para colocar lá dentro de tanto bandido que tem nessa cidade. Você tinha que andar com pedaço de pau para dar neles. Não tem direitos humanos, tem que dar pauladas mesmo – disse o deputado, muito aplaudido.

Freixo rebateu a fala de Campos:

– Acho lamentável que no século XXI um deputado aqui na Alerj venha defender a tortura. Isso é crime.