Cotidiano

Retrovisor: ?downsizing? para fugir da crise do petróleo

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RIO ? As novas gerações não têm a dimensão do que foi a crise do petróleo nos anos 70. Ou melhor: as crises.

Entre outubro de 1973 e março de 1974, o preço do barril quadruplicou, saltando de US$ 3 para US$ 12, devido a um embargo determinado pela Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (Opep). Para os brasileiros, o litro da gasolina mais do que dobrou, passando de Cr$ 0,77 o litro para Cr$ 1,80.

Aí, em 1979, a Revolução Iraniana provocou outra convulsão, fazendo o preço do barril pular de US$ 15,85 para US$ 39,50 em apenas um ano. Neste periodo, o litro da gasolina nos postos brasileiros subiu de Cr$ 8,40 para Cr$ 22,40.

O cidadão comum foi bastante afetado. Além dos seguidos aumentos nos postos, onde enormes filas tornam-se coisa corriqueira, houve medidas de racionamento. No Brasil, foi estabelecida a máxima de 80km/h nas estradas, os postos eram obrigados a fechar nos finais de semana e, por um ano, as corridas de automóveis foram proibidas. Muita gente deixou de andar de carro e o ?fim do petróleo? virou assunto de bar.

Em todo o mundo, carrões com sedentos motores V8 caíram em desgraça. No Brasil, os Dodge Dart, Ford Galaxie e Maverick GT foram fadados à extinção. De sonhos de consumo da alta burguesia no início da década de 70, passaram a ser tratados como lixo. Nas ruas, era comum vê-los abandonados com menos de dez anos de uso.

O importante era poupar gasolina, o que gerou uma onda de soluções que iam dos bizarros ?economizadores?, que mesclavam água no combustível, a adaptações ilegais ? e perigosas ? de bujões de gás de cozinha (GLP) no porta-malas.

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Nesse clima, pôr motores raquíticos em muscle cars americanos não era algo visto com maus olhos. A edição do GLOBO de 12 de junho de 1975 trazia, na seção ?Turismo e automóveis?, um relato entusiasmado sobre um Camaro que ganhara motor de Opala quatro cilindros.

Dizia o texto: ?Possuir um Camaro hoje em dia implica gastos elevados com a gasolina. Mas Walter Gentil de Almeida, ex-mecânico profissional e atualmente advogado e detetive da polícia carioca, que possui um Camaro 1968, não ficou conformado e decidiu transformá-lo em um carro mais econômico?.

A reportagem segue contando que Walter trocara o motor do Camaro 250 (um ?seis em linha? de 4.100cm³ e 157cv), por um modesto motor quatro cilindros de Opala, ano 1970 (80cv).

?Os resultados foram excelentes, pois o novo motor coube perfeitamente sem que fosse preciso mexer na relação das marchas ou na transmissão. (…) Walter garante que agora seu carro faz 8km/l na cidade?, festejava a reportagem diante do feito que hoje seria considerado um sacrilégio.