Cotidiano

Alan Oplustil, arquiteto: 'As pessoas não conhecem o drama dos resíduos'

“Nasci no Chile, morei na Bolívia e nos Estados Unidos antes de chegar ao Brasil, com oito anos. Tenho 54 anos e vivo em São Paulo. Fiz pós-graduação em gestão ambiental e criei a Construambiental, empresa especializada em projetos sustentáveis.”

Conte algo que não sei.

Depois da construção civil, a atividade que mais gera resíduos, em qualquer lugar, é a de eventos. A partir de padrões das Nações Unidas, calculamos que quatro dias de congresso, com 20 mil pessoas no total, geram a mesma emissão de carbono que a vida de uma pessoa em 60 anos. Entra na conta o transporte de pessoas e materiais, alimentação, gastos em hotéis e outros.

Que práticas em congressos são nocivas ao ambiente?

A iluminação é uma delas, mas, hoje em dia, com a tecnologia do LED, consegue-se chegar a um meio termo. Há muito desperdício também nos estandes, com o uso de madeira: eles constroem verdadeiras casas, uma coisa faraônica. Dá uma dor no coração ver caçambas e caçambas de madeira, com material bom sendo desperdiçado quando o evento acaba. A madeira pode servir a muitas pessoas por muito tempo. E dá para promover o produto sem ter que jogar tudo no lixo depois.

Como foi a experiência no congresso que o trouxe ao Rio?

Já fizemos vários congressos com neutralização de carbono, mas esta foi a primeira vez que fizemos uma compostagem in loco. A compostagem normal demora vários dias, mas temos um método natural, com enzimas, que acelera e tira os odores ruins no processo. Com um contêiner, fizemos isso ao lado do centro de convenções, perto da entrada do congresso. Transformamos 500 kg de alimentos em 300 kg de adubo. Vim ao Rio para participar da doação deste adubo para uma escola.

A sua vida tem pegada de carbono zero?

Eu sou chato, mas dentro do possível, sem exageros. Tenho preocupação com gasto de água, de luz. Também levo todo o meu resíduo para uma cooperativa de reciclagem que conheço e faço adubo para o jardim da minha casa. E lavo o carro a cada seis meses, acho um absurdo gastar água em um carro.

Se um gênio lhe desse direito a um desejo em relação ao meio ambiente, qual seria?

Que existisse educação ambiental. Não só em escolas, mas como uma orientação que levasse as pessoas a cooperativas de reciclagem, aterros… As pessoas não conhecem o drama dos resíduos. Em todo esse tempo que trabalho na área, tenho uma certeza: tudo depende da educação.

Sua experiência com congressos sustentáveis pode ser expandida a outros evento?

Um grande sonho que tenho é poder fazer com que grandes eventos possam ser sustentáveis. Por exemplo, o réveillon, feiras do livro… Vejo que isto seria completamente viável. Seria bom para todos, lembrando daquela máxima das três bases da sustentabilidade: o meio ambiente, o econômico e o social. Agora, trabalho em um projeto de gestão de resíduos num shopping, que costuma gerar muito material orgânico.

Os empresários, muitos deles seus clientes, estão se interessando mais pela sustentabilidade?

Este ano, estou percebendo que há mais noção de que os custos são muito altos com a gestão de resíduos, o que pode ser resolvido dentro do orçamento deles. Dá para ter uma solução ambientalmente correta sem aumentar gastos e, com o tempo, até reduzindo-os.

O mundo conseguirá reverter as mudanças climáticas?

Estamos no limite, mas acredito que sim. Acho que o ser humano reage à medida que vai sentido os efeitos dessas mudanças.