Foz do Iguaçu – As novas técnicas de detecção permitem conhecer a situação do solo e das águas da Bacia do Paraná 3, onde está situada a maior hidrelétrica do mundo em geração de energia – Itaipu Binacional. Na primeira fase do projeto “Micropoluentes em águas superficiais da BP3”, os pesquisadores foram surpreendidos com os baixos níveis dos agrotóxicos atrazina e glifosato, que estão entre os mais usados na região, no cultivo de milho e soja, representando 80% do uso e da ocupação agrícola da região. Mas agora é preciso saber como é a dinâmica de degradação desses pesticidas no solo e como afetam a biodiversidade, etapas que fazem parte da segunda fase dessas pesquisas.
Iniciado no final de 2016, o projeto, feito em parceria entre a Itaipu, o PTI (Parque Tecnológico Itaipu) e a Unila (Universidade da Integração Latino-Americana), analisou as concentrações do glifosato e da atrazina em 21 microbacias da BP3. Com a assinatura do início do novo convênio do projeto, intitulado “Estudo da dinâmica de micropoluentes em diferentes matrizes ambientais na região transfronteiriça”, semana passada, começam a ser analisados 12 rios do lado brasileiro da BP3 e 12 pontos no Paraguai. “O trabalho em conjunto com a margem paraguaia é inovador e possibilita que os dois países conheçam e comparem as microbacias de suas margens correspondentes”, explica Simone Benassi, gestora do convênio pela Itaipu.
Simone menciona ainda que a ideia também é permitir que a região tenha tecnologia de ponta no monitoramento ambiental.
A coordenadora do projeto pela Unila, Gilcélia Aparecida Cordeiro, doutora em química analítica, comenta que no primeiro projeto foram encontradas concentrações abaixo dos limites estabelecidos pela Resolução 357/2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Essa segunda fase, segundo ela, dá continuidade a esse trabalho para que possa ser feito um monitoramento mais detalhado na BP3 e na área de drenagem correspondente à margem paraguaia.
Divisão
Essa etapa será dividida em três subprojetos: o primeiro fará a análise dos micropoluentes nos riachos das microbacias no entorno do reservatório da Itaipu na região transfronteiriça; o segundo irá avaliar o efeito desses micropoluentes na biodiversidade de algas e peixes nesses riachos; e o terceiro fará o estudo da degradação por microrganismos dos agrotóxicos atrazina e glifosato no solo.
Como o projeto foi expandido, a equipe também será ampliada para garantir a análise das amostras. Os estudos serão desenvolvidos no Laboratório Multiusuário Engenheira Enedina Alves Marques, no PTI.
PronaSolos vai começar por Cascavel e Toledo
Os governos do Paraná e federal assinaram termo de cooperação para executar os trabalhos do PronaSolos (Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos).
O termo destina R$ 1,5 milhão da Itaipu Binacional para o levantamento de dados sobre solos, inicialmente na região oeste do Estado, entre os municípios de Toledo e Foz do Iguaçu na Bacia Hidrográfica do Paraná 3.
O objetivo a médio e longo prazos é mapear todo o Estado, pois o programa se estende até 2030. No Paraná, o PronaSolos vem sendo estruturado há mais de um ano com entidades parceiras, complementando o trabalho do Prosolo (Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná).
Com isso, o Programa busca articular a estrutura de pesquisa para aumentar o nível de conhecimento dos solos brasileiros. Com o termo, o Paraná se torna o primeiro Estado a implantar o Pronasolos.
A iniciativa é viabilizada pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a Embrapa Florestas – que conduzirá o programa, a Itaipu Binacional, secretarias de Estado da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Meio Ambiente, Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e ITCG (Instituto de Terras, Cartografia e Geociência).
O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, George Hiraiwa, disse que a união entre os diversos setores vai beneficiar o Paraná e agradeceu o empenho de todos os parceiros. “Esse levantamento permitirá que as informações de solo sejam utilizadas pelo setor público e pelo setor produtivo no planejamento das suas ações. Os produtores poderão planejar suas propriedades, visando proteger o solo e a água, seu maior patrimônio”.
Desenvolvimento
O Iapar vai executar a parte de geoprocessamento para elaboração de mapas, reunindo os dados de cada localidade para transformá-los em informação geográfica.
O diretor de pesquisas do Instituto, Tiago Pellini, afirmou que o projeto exige bastante trabalho de campo, mas vai constituir uma base de dados muito mais detalhada para conhecimento dos solos. “Os atuais mapas de solo têm escalas muito menores, sem detalhamento. Agora será possível conhecer a estrutura e a classificação dos solos, trazendo benefícios para o planejamento, recomendações de uso, aptidão agrícola do solo, além de outras informações”, diz.
O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Marcos Stamm, destacou que o convênio aumenta os compromissos da binacional na região. Segundo ele, os principais beneficiados são os produtores rurais.
Diferencial
Nesses levantamentos, no Paraná, além do mapeamento de solos, será privilegiada a água, com mapeamento da vegetação em áreas protetivas.
Segundo a secretária-executiva do programa Prosolo Paraná, Debora Grimm, outro diferencial é que a base de dados será pública, qualquer pessoa pode ter acesso. “Com isso, vamos gerar mapas de solo numa escala acessível e ter conhecimento sobre a vegetação protetiva, facilitando o planejamento das propriedades”, disse.
Atualmente, os mapas de solos e vegetação trazem informações, em média, na escala de 1:100 mil. A intenção é reduzir essa escala para 1:25 mil ou 1:50 mil.
O que é o Pronasolos
O Pronasolos é um programa federal, de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Embrapa Florestas faz o levantamento das informações necessárias e demais providências para se estabelecer uma governança eficaz com relação ao tema solo, que será implantado em todos os estados.
Ele surgiu a partir de um Acórdão do Tribunal de Contas da União (nº 1942/2015) que versa sobre Governança de Solos. A matéria constatou a insuficiência de informações e a dificuldade de acesso aos dados de solos, devido à inexistência de um sistema único ou de uma plataforma que permita a interpretação desses dados por profissionais que utilizam esse tipo de informação no Brasil.
Cada Estado ficará responsável pelo mapeamento detalhado com base em cinco princípios de ação: proporcionar informações que auxiliem na promoção de uso e manejo adequado do solo, com foco na sustentabilidade; estimular investimentos, políticas públicas mais assertivas e transferência de tecnologia; promover pesquisas focando nas lacunas do conhecimento em solos; geração de informações e ampliação da base de dados; padronizar métodos, medidas, indicadores de manejo e proteção do recurso natural (solo).