RIO ? Depois de 40 dias alugado ao Consulado Britânico durante a Olimpíada, que o transformou na British House, com festas e eventos ligados ao Reino Unido, o Parque Lage foi finalmente devolvido aos cariocas. Além do contrato de aluguel no valor de R$ 2 milhões, como ?legado olímpico? ficaram uma cancela nova e uma plataforma de elevação para portadores de deficiência. Mas é a situação geral do local ? a estrutura do palacete, o mobiliário externo dos jardins, os banheiros públicos e a limpeza da área verde ? que preocupa alunos e professores da Escola de Artes Visuais (EAV). De acordo com eles, que frequentam o local diariamente, o parque ?parece mais abandonado do que antes?.
O ?antes? remonta ao mês de março, quando o governo do estado suspendeu pagamentos e rescindiu contrato com a organização social (OS) Oca Lage, que administrava a instituição, demitindo 70 funcionários do local. Desde então, os sinais de abandono são evidentes: a mata cresce sem poda, o lixo dos visitantes se acumula por toda parte, os banheiros usados pelo público estão entupidos, e o mobiliário do parque precisa de reparos. Além disso, outros problemas surgiram depois dos Jogos, segundo os alunos:
? O parque já estava em situação de abandono antes de ser alugado para a Olimpíada. Mas, depois disso, algumas coisas pioraram, principalmente em relação ao mau cheiro dos banheiros entupidos. Outra mudança foi que nas aulas de desenho que faço, as lâmpadas que iluminavam o modelo-vivo, fundamentais numa aula de pintura, não existem mais. O modelo agora fica perto da janela, porque a sala está sem a iluminação adequada ? criticou um aluno da turma de Desenho e Pintura, que frequenta o curso à noite.
Outro aluno relata que um dos professores ameaçou não dar aula sem luz:
? Quando voltamos a ter aula, toda a fiação elétrica estava faltando. Pensamos se valia a pena ter aula, pois era uma falta de respeito, numa turma de pintura, não ter iluminação apropriada.
No espaço de acesso público, todos os pilares estão com rachaduras, vigas à mostra e pintura inadequada. Na sala usada para as aulas de desenho, arabescos estão destruídos e há portas estragadas pela umidade. Nas paredes, notam-se remendos de gambiarras elétricas expostos, indicando que algo foi retirado e não foi recolocado.
? Sabe quando você faz mudança e não consegue arrumar tudo a tempo? É exatamente assim que está o Parque Lage ? alega uma professora. ? Como agora só há poucos funcionários trabalhando lá, ainda não deu tempo de arrumar tudo depois que o Consulado Britânico devolveu o parque, é pouca gente para reorganizar as bibliotecas, as salas, para colocar tudo no lugar… É complicado, principalmente nos fins de semana, quando o parque tem muitos turistas, porque eles sujam tudo, e não há ninguém para limpar.
LICITAÇÃO PARA MELHORAR A LIMPEZA
Procurada pelo GLOBO, a Secretaria Estadual de Cultura (SEC) diz que o Consulado Britânico não tem nada a ver com a degradação do parque, e que alguns problemas já estavam lá antes do aluguel. Ainda de acordo com o órgão, a falta de manutenção ou conserto se deve ao fato de ser necessária uma obra completa de restauro, que não seria ?uma simples reforma?. ?Fiação e luminárias foram retiradas pela secretaria antes de entregar o espaço à British House, por contrato com o Consulado Britânico, que fez sua própria iluminação?, diz a secretaria em nota.
Ainda de acordo com a SEC, há atualmente três funcionários para realizar a limpeza do palacete. ?Está em andamento um processo licitatório para melhorar os serviços de limpeza de todo o parque. O Consulado Britânico entregou as instalações nas mesmas condições que recebeu. Como legado, foram realizadas obras de pintura, recuperação de piso, acessibilidade aos banheiros e recuperação dos portões de entrada. Quanto aos banheiros entupidos: o conserto já está sendo providenciado?, conclui a nota.