Poucas indústrias foram tão afetadas pela revolução digital quanto a de mídia. Para os antigos players, qual é o caminho: se adaptar ou se reinventar?
Eu acho que, na realidade, praticamente todas as indústrias e todas as áreas da sociedade moderna estão sendo afetadas pela revolução digital, incluindo a política. O caminho é a reinvenção. Uma adaptação efetiva só acontece num processo de reinvenção verdadeiro. A questão é se as empresas e instituições terão condições de chegar do outro lado ou se serão simplesmente substituídas por novas propostas. Acredito que teremos os dois cenários. Empresas que terão capacidade de reinvenção e o aparecimento de novos entrantes e novas instituições.
Para as empresas tradicionais, como concorrer com as empresas nativas digitais?
O desafio é se descolar do legado. Em se tratando de conteúdo, as empresas tradicionais ainda têm uma credibilidade enorme. Elas precisam acelerar seus processos de reinvenção separado a sua marca (seu nome) de seu modus operandi. Vamos tomar como exemplo O GLOBO. Não me restam dúvidas de que ele continua tendo uma credibilidade enorme. O desafio é adaptar seu modelo de funcionamento, receita e despesas, ao novo cenário. Como fazer isso? Muitas empresas estão criando novas unidades ou novas empresas dentro de casa. São entidades com uma estrutura de custos e modelo de receita completamente novos que carregam a marca antiga, que traz a credibilidade. É um processo de reinvenção e criação de uma empresa nativa digital dentro de casa, transferindo para esta nova empresa a credibilidade que o “tradicional” construiu.
A indústria da música, de certa forma, foi uma das primeiras a sofrer com a disrupção digital. Ela mostrou caminhos que podem ser seguidos pelas outras mídias?
Acho o processo de reinvenção muito particular para cada indústria. Não dá pra fazer uma comparação direta. O que podemos aprender da indústria da música é que há sim uma solução do outro lado do túnel e que é possível fazer um processo de reinvenção. Mas este processo não preserva o status quo. Ele deixa pelo caminho muita gente e receitas vultuosas.
Em relação ao mercado publicitário, existe como disputar com Google e Facebook?
Acredito na disputa baseada no conteúdo de qualidade. Bons produtos de conteúdo vão continuar atraindo marcas. O negócio do Facebook e do Google está calcado principalmente no volume e na segmentação. Contra isso, não vejo forma de se competir.