WASHINGTON ? Com quase 4 milhões de membros, o grupo Pantsuit Nation (?Nação do Terninho?, em inglês) se converteu em um espaço para que mulheres progressistas dos Estados Unidos compartilhem histórias pessoais em um país dividido pelo governo do presidente Donald Trump. O grupo do Facebook surgiu nos últimos dias da corrida presidencial americana, em 2016, e serviu para unir as seguidoras da candidata democrata Hillary Clinton. Segundo a fundadora do grupo, Libby Chamberlain, o objetivo era conseguir, de alguma forma, inspirar as eleitoras da ex-secretária de Estado dos EUA. Trump mulheres
? Como seguidoras de Hillary, progressistas e democratas, é muito fácil nos sentirmos desprezadas e sozinhas ? afirmou. ? Muitos dos membros de nosso grupo vivem em comunidades ou pertencem a famílias que pensam muito diferente deles. Não podem tocar a porta do vizinho para se lamentarem sobre o que acontece no país. Porém, eles podem vir para este espaço online.
Chamberlain, de 33 anos, dirige a Pantsuit Nation desde sua criação, no dia 20 de outubro do ano passado. A ideia era incentivar as seguidoras de Hillary a usarem, no dia da votação, o terninho ? traje favorito da candidata democrata. Em apenas um dia, a iniciativa conseguiu reunir ao menos 24 mil pessoas. No início de novembro, o número cresceu para um milhão. No dia da eleição, o grupo contava com 3,5 milhões de membros. Com o triunfo de Trump, as fotos das mulheres de terno deram espaço para as postagens na página virtual demonstrando o descontentamento com o resultado.
Agora, o Pantsuit Nation foca seus conteúdos na agenda conservadora de Trump, mostrando os efeitos de suas medidas na vida cotidiana das americanas, indo desde as restrições migratórias até as reformas no sistema de saúde e na anulação da proteção de pessoas transgêneros.
? Parece-me que neste país há uma ânsia pelos relatos pessoais, que mostram o impacto humano da política de Trump, seja em nível nacional, estadual ou local ? disse Chamberlain. ? (O grupo) Mostra uma proximidade humana. Isso nos permite a segurar em algo, como uma esperança ou um senso de comunidade que nos impulsiona a agir.
RELATOS PESSOAIS
A publicitária texana Darla Barar, de 30 anos, escreveu na página do Facebook do Pantsuit sobre o seu aborto. O objetivo era se opor contra a medida do Congresso americano, que busca estabelecer que a vida humana começa no mesmo momento em que ocorre a concepção.
? Realmente nos impacta, porque, do jeito como a medida foi redigida, expõe uma proibição dupla: tanto sobre o aborto quanto em relação a fertilização in vitro ? explica Barar. ? É como ser golpeada duas vezes.
Barar estava grávida de gêmeas, concebidas artificialmente, quando descobriu que uma das bebês tinha um crescimento de massa cerebral fora do crânio. Caso a filha sobrevivesse ao parto, ela nasceria com sequelas graves. Além disso, a gestão da gêmea também afetava a formação de sua irmã, colocando a vida das duas sob risco. Por causa disso, a publicitária do Texas decidiu abortar uma das filhas para dar mais chances a outra, que nasceu saudável e, hoje, tem 5 meses.
? A nossa história é a de um aborto em etapa avançada. Nós somos o alvo de debate dos anti-abortistas, que falam sem conhecer os casos, sem vivê-los ? disse Barar
FUTURO DA PÁGINA
Libby Chamberlain se preocupa, agora, em registrar a Pantsuit Nation como uma organização sem fins lucrativos, uma forma de permitir que o grupo cresça fora do campo virtual. Outra ambição é contratar três ou quatro funcionários para substituir alguns dos 65 voluntários, responsáveis em manter atualizada a página no Facebook e as outras redes sociais do grupo. Chamberlain também se prepara para escrever um livro sobre a Pantsuit Nation, para ser publicado em maio deste ano ? o que recebeu diversas críticas por estar vendendo histórias de outras pessoas.
Para a professora na universidade Dartmouth College Linda Fowler, esse é um momento crucial para o grupo, já que forma uma organização pode ser um grande desafio.
? Contar esse tipo de história é importante e há muitas pessoas tem algo para relatar. Podem continuar fazendo isso, mas não terão um impacto político a menos que acompanhem uma agenda e uma estratégia para alcançar metas específicas ? explicou Fowler.