PARATY – Ruas mais vazias, menos público na Tenda dos Autores. Mais gente assistindo aos debates no telão, encontros concorridos na programação paralela. Um fim de sábado com aplausos para a mesa que reuniu os poetas Kate Tempest e Ramon Nunes Mello, um início de domingo com vaias para o sírio Abud Said. Após 14 anos, está claro que os contraditórios convivem na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Na edição em que Ana Cristina Cesar foi homenageada, a poesia e as mulheres se destacaram, mas a ausência de convidados negros provocou críticas à curadoria.
Links Flip mesas sábado Logo na quarta-feira à tarde, na abertura do Espaço Itaú Cultural de Literatura, o curador Paulo Werneck foi confrontado pela escritora Conceição Evaristo sobre a falta de negros na programação principal. Werneck respondeu que convidou vários, citando a cantora Elza Soares e o rapper Mano Brown, e até ?aporrinhou? alguns nomes. Conceição respondeu que adoraria ter sido ?aporrinhada? pelo curador.
Já na programação principal, na Tenda dos Autores, a conversa sobre sexo da jornalista peruana Gabriela Wiener com a escritora Juliana Frank, na sexta à noite, foi um desastre. Juliana brigou com os fotógrafos, levantou o vestido e até miou no palco. O mediador, Daniel Benevides, gerou constrangimento ao chamar Gabriela de ?devassa? e dizer, ironicamente, que ela ?não era de família?. A jornalista não gostou e retrucou que tinha ?muito orgulho? da sua vida.
Links Flip Mesas dia 3 Constrangedora também foi a mesa ?Síria, mon amour?, que reuniu, ontem, o escritor sírio Abud Said e a jornalista Patrícia Campos Mello. Said repetiu o que vinha falando desde sua chegada a Paraty: não gosta de falar de política. O escritor desviou do tema, por vezes de forma grosseira, e ainda criticou os repórteres que cobrem o conflito ? como Patrícia ? e ?a turma dos direitos humanos?. Na sua visão, todos fazem jogo sujo. Foi vaiado pelo público.
Em entrevista coletiva, ontem de manhã, o arquiteto Mauro Munhoz, presidente da Associação Casa Azul (organizadora da Flip) e o curador Paulo Werneck negaram que houve ?curto-circuito? na mesa sobre sexo. Para Munhoz, nem todos os debates funcionam e essa ?exceção confirma a excelência da programação?. Sobre o sírio, Werneck disse que era legítimo ele não querer falar de política:
Info – FLIP sobe e desce ? Diante de uma crítica (feita por Said à ?turma dos direitos humanos?), é natural que a plateia tenha a sua reação. Também houve autores britânicos que não quiseram falar sobre o Brexit.
FATOR OLIMPÍADA
Na entrevista coletiva, outro assunto dominante foi a crise. Munhoz ressaltou que a Flip passou por percalços para captar recursos e precisou encontrar soluções criativas para manter as suas atividades. Sobre o menor número de visitantes em Paraty, ele lembrou as dificuldades causadas pela Olimpíada. E explicou que, caso o evento fosse realizado uma semana depois, os custos seriam maiores devido à proximidade com os Jogos.
Até o sábado, a Tenda dos Autores recebeu mil pessoas a menos em comparação com o ano passado: 12.251 contra 13.253. Já o telão, colocado do lado de fora, com acesso gratuito, teve mais de mil espectadores a mais: 23.246 contra 21.990. O destaque do telão foi a mesa da prêmio Nobel bielorrusa Svetlana Aleksiévitch, vista por 1.800 pessoas do lado de fora, segundo a organização.
De qualquer forma, quem veio encontrou bons debates e alguns momentos que serão saudados por um bom tempo. Além de Svetlana, o norueguês Karl Ove Knausgård, o americano Benjamin Moser e a britânica Kate Tempest foram alguns dos estrangeiros mais aplaudidos.
Na Livraria da Travessa, parceira oficial do evento, os cinco livros mais vendidos foram: ?A guerra não tem rosto de mulher?, de Svetlana Aleksiévitch; ?A teus pés?, de Ana C.; ?Vozes de Tchérnobil?, de Svetlana (os três da Companhia das Letras); ?Autoimperialismo, três ensaios sobre o Brasil? (Planeta), de Benjamin Moser; e ?Todos os contos? (Rocco), de Clarice Lispector, organizado por Moser. Veja a lista dos 10 mais vendidos.
(Colaboraram Bolívar Torres, Mariana Moreira e Ronaldo Pelli)