Toledo – Somado ao sentimento de indignação dos paranaenses com a deflagração de mais uma etapa da Operação Lava Jato que revelou um esquema milionário de corrupção na concessão de rodovias no chamado Anel de Integração, envolvendo as seis concessionárias de pedágio no Paraná (leia mais nas páginas 4 e 5), entidades de classe e a sociedade civil iniciam a articulação para recorrer à Justiça para tentar reparar os danos provocados pelas fraudes cometidas durante quase 20 anos.
Amplamente criticado pelo setor produtivo pela formatação das concessões, especialmente pelas elevadas tarifas (maiores do País) e pela falta de investimentos necessários, estima-se que os prejuízos com o pedágio, somente na região oeste, cheguem a R$ 100 milhões por ano. Considerando 20 anos, a conta chega a R$ 2 bilhões.
O presidente do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), Danilo Vendrúscullo, destaca que, “enfim, justiça foi feita” e que a entidade já discutia – antes mesmo da deflagração da operação de ontem – a articulação de uma ação popular, envolvendo entidades de classe e usuários, para dar entrada na Justiça e pedir ressarcimento de valores. “Víamos as irregularidades desde sempre, a população sendo lesada, o setor produtivo extremamente prejudicado, além dos faturamentos líquidos [das concessionárias] fora do normal, acima dos 25%. Por isso, estamos analisando essa ação de caráter popular e protocolar isso no Ministério Público. Estamos buscando orientação jurídica nesse sentido e buscando parceiros”, explica.
Para o industrial de Toledo, diretor de produtos e serviços da Associação Comercial do Brasil, Rainer Zielasko, o escândalo de ontem, que certamente terá desdobramentos, revela uma triste realidade de irregularidades que se tentava investigar e vinha sendo denunciada nos últimos 20 anos. “Mas era tudo tão escondido, tão bem guardado que pouco se tinha acesso aos documentos”, lembra.
Rainer reforça a necessidade de uma ação reparadora na Justiça e reforça que, mais do que a devolução de recursos aos usuários, é o ponto final no amplo e volumoso esquema de corrupção: “Nós, do setor produtivo, sabemos o quanto o pedágio nos tira… tira competitividade, tira empregos, tira a possibilidade de crescimento e nos tira vidas com acidentes fatais em trechos não duplicados. É muito triste isso. Nós tínhamos a intuição de que havia irregularidades. Agora se observa que onde se mexe há corrupção”.
O industrial defende que entidades de classe do oeste se reúnam para debater de que forma deverão agir diante dos resultados da operação de ontem: “Mas ações judiciais são muito importantes e essenciais”, adianta.
Respostas
Para o presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Industriais) Marcos Tadeu Barbosa, os problemas recorrentes do pedágio já indicavam que dariam nisso. “Feliz não estamos, mas a sociedade precisa de respostas. O processo precisa ser transparente, as planilhas devem ser abertas, é preciso abrir a caixa-preta dos pedágios no Paraná. Até então, ninguém podia tocar no assunto com um monte de planilha fabricada para derrubar os argumentos que tínhamos”, argumenta.
O presidente da Faciap reforça a necessidade, o apoio e a parceria para ações judiciais e afirmou que a entidade oferece colaboração técnica, além de colocar a estrutura jurídica à disposição para tratar dessas demandas: “Precisamos esperar alguns dias para entender os desdobramentos disso e então entrar com as ações. A população foi e continua sendo lesada. O cidadão comum é lesado. O setor produtivo é lesado em todo o Paraná. Quem produz no Paraná perde. Perde em competitividades, custo da logística. Precisamos fazer a coisa bem feita, nos unirmos para discutir medidas, tanto o setor produtivo quanto a população, para que tudo não continue da mesma forma. Não dá mais”, desabafa, ao enfatizar que o objetivo é unir os quase 300 municípios prejudicados nessa causa.
A Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) foi procurada, mas até o fechamento da edição não havia se manifestado sobre o assunto. A federação destacou que o presidente Edson Campagnolo está fora do País. A direção do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) também não se pronunciou porque o presidente está de atestado médico.