BRASÍLIA ? Os presidentes do PSDB e do DEM, senadores Aécio Neves (MG) e José Agripino Maia (RN), fizeram uma reunião de emergência para conter a rebelião e recuar da decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão de votar em separado a manutenção dos direitos de Dilma Roussseff exercer cargos públicos.
Segundo Agripino, foi uma reação de primeiro momento, que incluiu até mesmo ameaça de rompimento com o governo de Michel Temer, mas não faz sentido o risco de questionar, no STF, todo o processo de impeachment.
Na reunião, os parlamentares avaliaram que recorrer ao Supremo poderia dar uma “arma” à defesa de Dilma, porque o processo do impeachment estaria sendo questionado. Além disso, havia o perigo de o STF dar uma decisão inesperada sobre a perda do mandato de Dilma. A irritação ocorreu porque a manobra permitiu que Dilma mantenha o direito até mesmo de concorrer nas eleições.
? Fizemos uma reunião para refletir e não achamos coerente recorrer ao Supremo. Também não faz sentido romper com o governo que acabamos de legitimar. O que exigiremos do presidente Temer é unidade de pensamento de sua base, a começar pelo PMDB, que mostrou desunião. O governo tem que mostrar capacidade de união ?disse Agripino, acrescentando:
? Se o governo insistir em ter uma cobra de duas cabeças, não contará conosco. O PMDB precisa dar o exemplo nas reformas, a começar pelo aumento do Supremo. Não aceitamos aprovar isso.
Segundo o presidente do DEM, foi uma “má sinalização” do início do governo Temer, agora efetivado, mas que o peemedebista negou participação no acordo para aprovar a emenda que beneficiou Dilma:
? Fomos pegos de surpresa, e o Senado fez um papelão perante a opinião pública. Se governador e prefeito perdem os direitos quando são cassados, por que não a presidente? Não foram todos os senadores do PMDB que apoiaram. Foram 11 votos, produto do convívio de anos de usufruto, com parlamentares pagando o dízimo da convivência.
Mais cedo, Aécio Neves havia dito que recebeu uma ligação de Temer, que prometeu subscrever o mandado de segurança que os partidos liderados apresentariam ao Supremo.
? Foi um gesto do presidente Michel Temer para provar que não participou de nenhum acerto para livrar Dilma da cassação de seus direitos políticos. Isso azeda a relação dos aliados num momento extremamente delicado do país e do governo. Estou tentando colocar panos quentes para segurar. O Aloysio Nunes quer entregar o cargo de líder do governo, e o Cássio Cunha Lima disse que vai entrar de licença e não dá mais uma palavra em defesa do governo depois desse absurdo que foi perpetrado com o apoio do PMDB. O Caiado também está dizendo que está fora ? disse Aécio.
Depois, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), disse que reconsiderou sobre a intenção de entregar o cargo de líder do governo no Senado. Ele também afirmou que os partidos não irão mais recorrer ao Supremo.
? Na hora eu fiquei chocado, mas depois me acalmei. Não sou homem de faniquito. Temos que ter consciência que a base do governo é complexa ? disse Aloysio Nunes.
Após a reunião, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que a confiança em Temer continua inabalada, mas a relação com o PMDB precisa ser rediscutida e acertada.
? Ficou claro que o Michel (Temer) não está por trás disso, absolutamente, e é um erro a judicialização dessa decisão. A votação do Senado é irrevogável. Mas temos que resolver o problema com o PMDB, acabar com esse pensamento que a política pode ser feita com bola nas costas ? disse Cássio.