Cotidiano

Cuidados com disposição dos móveis e limpeza da casa evitam alergias

broom-1274401_960_720.jpg Alergia RIO – Uma coceira intermitente no nariz acompanhada por uma sequência de espirros pode ser um forte indicativo de que a casa precisa de um tapa no visual. E não são as cores da parede ou a estampa do sofá que devem ser mudadas. Sem os devidos cuidados, o imóvel onde vive uma pessoa com alergias pode virar um verdadeiro campo minado.

? O ambiente doméstico é foco de diversas substâncias capazes de afetar a evolução clínica de doenças alérgicas, principalmente as de natureza respiratória, que incluem a rinite, a sinusite e a asma brônquica ? afirma o médico Eduardo Costa, coordenador do Serviço de Alergia-Imunologia da UERJ.

Como ele descreve, há dois grupos de ?vilões? que podem ser inalados no interior das moradias e, consequentemente, agravar as crises respiratórias. O primeiro deles refere-se às substâncias com ação irritativa no aparelho respiratório, como odores de produtos de limpeza e perfumes, além de poluentes, como a fumaça de cigarro. Já o outro grupo é formado pelos chamados agentes alergênicos, substâncias biológicas derivadas de ácaros da poeira, pelo, pele e secreções de animais domésticos, fungos (mofo) e insetos.

? Por serem facilmente reconhecidos pelo odor e causarem sintomas imediatos, os itens do primeiro grupo tendem a ser notados mais rapidamente ? observa Costa. ? Já o segundo não é tão facilmente percebido. Em geral, o alérgico sente o cheiro do mofo e dos cães, enquanto as substâncias alergênicas de ácaros, insetos e gatos não são notadas. Entretanto, causam não só irritação da mucosa que reveste o aparelho respiratório, como induzem a uma inflamação que leva às crises de espirros, coriza e prurido nasal (na rinite) ou de tosse, falta de ar e chiado (no caso da asma).

O médico alerta que, quanto mais tempo uma pessoa fica em contato com esses agentes, mais sintomas aparecerão. Para quem tem rinite, por exemplo, a piora do quadro aumenta o risco de sinusites e de desenvolvimento de asma. E para quem já apresenta asma, afirma ele, a probabilidade de exacerbações aumenta, assim como as chances de internação, além da perda progressiva e mais acelerada de função pulmonar.

Segundo a médica Norma Rubini, vice-presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, estima-se que 20% a 25% da população brasileira tenha algum tipo de alergia respiratória. E isso, de fato, se desdobra numa preocupação das pessoas com suas casas.

? Pacientes alérgicos ou com filhos alérgicos buscam seguir as recomendações. Mas nem sempre é fácil, pois algumas mudanças envolvem fatores financeiros, sociais e psicológicos. Várias famílias não têm como mudar de endereço ou fazer as reformas necessárias, especialmente, aquelas que não residem em imóvel próprio ? diz ela.

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Por outro lado, existem muitos cuidados simples capazes de melhorar o bem-estar dos moradores.

? Os principais erros cotidianos são manter a residência fechada ao longo do dia e a utilização de umidificadores à noite no quarto de dormir. Esse aparelho aumenta a umidade no recinto e favorece a proliferação de ácaros ? comenta Norma. ? Outro equívoco é a utilização excessiva de produtos de limpeza, que podem irritar as vias respiratórias e a mucosa ocular.

DORMINDO COM O INIMIGO

Segundo a médica, é importante que o ambiente doméstico tenha boa ventilação e seja ensolarado. A utilização de piso de fácil limpeza com pano úmido e eliminação de tapetes também entra nessa lista. Já as cortinas devem ser laváveis e colchões e travesseiros precisam ser revestidos com material impermeável.

? O quarto de dormir é o cômodo mais problemático, pois é um local muito propício ao acúmulo de poeira em estantes e armários. Também é onde passamos a maior parte do dia. Além disso, os colchões são o principal foco de ?criação? de ácaros ? salienta ela.

Costa reforça as recomendações da médica:

? O ideal é ter o mínimo de objetos de decoração no quarto para facilitar a limpeza, assim como não ter cortinas de pano e tapetes, para não acumular poeira. Também deve-se evitar livros, pois acumulam poeira e dão mofo.

A ocorrência de mofo nos cômodos, aliás, também pode ser solucionada de maneira simples, como sugere Jorge Pinto, coordenador do Serviço de Imunologia do Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte.

? A solução de água sanitária de uso doméstico diluída a 1/10 é um método eficiente. Basta borrifar nas áreas mais afetadas, como banheiros, armários e áreas úmidas. Depois, é só deixar secar espontaneamente ? descreve ele, sobre o método que deve ser adotado semanalmente e feito sem a presença dos habitantes alérgicos.

A SERVIÇO DO BEM-ESTAR

Segundo o arquiteto Maurício Nóbrega é comum os clientes pedirem alguns cuidados em função de suas alergias. Ele mesmo precisou ter essa preocupação na sua casa, já que tem mulher e filha alérgicas.

? Para estes casos, uso pisos frios ou de madeira, nunca carpete ? comenta ele. ? E mesmo os tapetes de varanda são feitos de corda náutica ou de sisal plástico.

MAURÍCIO NÓBREGA_0 009.jpgEle também evita tecidos para as cortinas e as paredes. Em alguns projetos, papéis de parede laváveis são ótimas opções para as áreas de circulação.

? Procuro usar materiais de fácil limpeza em diferentes frentes. E tudo deve ser removível para facilitar a higienização ? acrescenta Nóbrega.

A arquiteta da Mdoito Arquitetura, Mariana Soria, também tem seus ?truques?. Segundo ela, o mercado evoluiu muito nos últimos anos, aumentando a oferta de produtos que facilitam a vida dos alérgicos.

? Tintas e colas praticamente sem cheiro ajudam bastante. Se vou aplicar algum material sobre a parede, dou preferência aos recursos mais lisos em vez de rugosos ? ilustra ela. ? Para o banheiro, uso sempre rejuntes anti-mofo, além de garantir a circulação de ar no ambiente.

QUARTO DO BEBÊ

Para quem tem criança em casa, todos esses cuidados devem ser seguidos com mais afinco ainda. A recomendação é da pediatra e neonatologista do Grupo Perinatal, Danielle Negri. Segundo ela, quando os bebês são portadores de alguma alergia ou têm predisposição genética para isso, desencadeiam as doenças relacionadas mais rapidamente e de maneira mais acentuadas se entrarem em contato com os causadores. Afinal, nos anos iniciais, eles ainda não têm a imunidade tão reforçada.

? Em casos como este, animais de estimação e bichos de pelúcia devem ser expressamente evitados ? destaca Danielle. ? O uso da vassoura também precisa ser descartado, sendo utilizado apenas pano úmido. E brinquedos que tenham ficado guardados em caixas precisam ser higienizados antes da brincadeira.