RIO? Há encontros e desencontros, dramas e alegrias nas canções do disco de estreia do Opala (de letras quase todas em inglês, a única exceção é ?Maracajaiaçu?, em português). Mas todas as emoções são vividas numa planície ? há riqueza na vegetação de timbres sintéticos e beats, pedras mais brilhantes aqui ou ali na topografia dos versos, mas o terreno não tem os arroubos de serra. As faixas se encadeiam naturalmente como se fossem uma longa história, sob uma atmosfera cool, blasé, mais interessada na contenção que na explosão. Balançar de ombros, olhos fechados ? o movimento variando de velocidade, seguindo apenas o andamento das músicas. Opala 2
Atravessado por essa dinâmica sutil, o disco parte do synthpop-papo-reto de ?Sagittarius A? e chega à radicalidade do corpo estranho ?Maracajaiaçu? ? radicalidade para o ar (é o arranjo mais etéreo do disco) e para a terra (pela temática e vocabulário indígena). Entre as duas, a dupla desenvolve um pensamento contemporâneo, fragmentado, na combinação de suas referências, quase sempre em melodias simples e sedutoras ? pop, enfim. Sua música dialoga com artistas de sua geração que reprocessam os anos 1980, muitos dentro de nichos indie. Porém, ela se torna mais interessante quando ecoa o som radiofônico eletrônico mais popular daquela era ? seu subterrâneo carrega artistas como Marcos Valle, Rita Lee, Michael Jackson e Marina Lima. Ali, com elegância irônica e plastificada, soam mais profundamente 2016.
Cotação: Bom