Assis Nada melhor que uma crise severa, daquelas que exigem todo tipo de corte e medidas de contenção, para expor a fragilidade dos governos e para evidenciar os malefícios da corrupção à coletividade. Mesmo que a mordida dos impostos seja de mais de 38% do PIB (Produto Interno Bruto), os governos insistem em repetir o velho chavão de que não há dinheiro. Com máquinas cada vez mais inchadas e folhas salariais avançando o limite prudencial, os pagadores de impostos ficam desprotegidos e expostos à própria sorte.
Há consenso entre entidades produtivas de que a crise, que não é só financeira, seguirá sua trajetória enquanto ajustes sérios e mudanças de posturas não ocorrerem. Caso transformações profundas não venham, a rota continuará em direção ao caos. Um dos sintomas mais visíveis de que as coisas não estão bem é o agravamento da criminalidade e o sucateamento de estruturas públicas que, em vez de proteger as pessoas, transformam-se em armadilhas, lamenta o ex-presidente Coordenadoria das Associações Comerciais do Oeste, Khaled Nakka.
A comprovação do abandono está em rodovias com buracos (exceção das pedagiadas), com ondulações, sem sinalização e em alguns trechos sem acostamento. E também em estruturas que deveriam garantir segurança aos usuários. Exemplo claro da falta de ações de manutenção preventiva à altura da necessidade é a ponte sobre o rio Piquiri, na PR-486, na região de Assis Chateaubriand. Não precisa ser especialista para perceber que ela está bem ruim. Além de cuidado, é preciso ter sorte para trafegar por ela, diz o caminhoneiro João Carlos Junior, que às vezes passa pelo Oeste do Paraná em suas andanças pelo Brasil.
A ponte apresenta remendos no centro da pista de rolamento, há falhas no pavimento e o acostamento é praticamente inexistente. Mas é a mureta de proteção lateral que testa o sangue frio dos motoristas. Ela parece frágil e em alguns pontos está inclinada. Em outros faltam vãos inteiros, derrubados em acidentes como o registrado na semana passada, quando um motorista perdeu o controle, ultrapassou a barreira e caiu no rio. O corpo do condutor de 49 anos foi localizado mais de dois dias depois da ocorrência. A reposição da mureta, quando ocorre, consome tempo precioso.
Antigo
Não é de hoje que pontes sobre o rio Piquiri, um dos principais da região, geram insegurança aos motoristas. A precariedade é denunciada faz tempo. Há alguns anos, a Justiça Federal de Umuarama precisou intervir e obrigou o Dnit a consertar a ponte entre Francisco Alves e Guaíra, na BR-272. Na ação, que dava prazo para a reforma e previa multa em caso de desobediência, a Justiça afirmava que havia sérios riscos aos usuários. Em vez de acatar a determinação e pensar na segurança dos usuários, o Dnit empurrou o abacaxi ao DER, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem.
A falta de programas de manutenção em estruturas públicas, a partir de medidas preventivas, é cultural no País e isso custa vidas e onera ainda mais o contribuinte, diz um empresário de Assis que prefere não revelar o nome. Não é só ponte ou estrada. Qualquer estrutura pública, com exceção das novas, têm problemas. Reparos são feitos anos depois do indicado e, na maioria das vezes, após alguma tragédia. É só ver o que ocorre também nos hospitais…. Em 2014, o Dnit informou que recuperaria 2,5 mil pontes pelo Brasil, ao custo de R$ 5,8 bilhões. Com os escândalos que atingiram a União e secaram o caixa, praticamente nada foi feito.
Corrupção suga R$ 200 bilhões por ano
O procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, esteve recentemente em Cascavel e em palestra para mais de 400 pessoas deu alguns números que fizeram aflorar os mais diversos sentimentos de revolta. Deltan informou que a corrupção suga R$ 200 bilhões do dinheiro público todos os anos no Brasil.
Esse é o mesmo dinheiro que falta na saúde, na educação, na segurança, em obras de infraestrutura e que poderia tirar milhões da miséria. Com esse dinheiro, conforme o procurador, seria suficiente triplicar investimentos em saúde e educação, quintuplicar os recursos da segurança pública, construir dez escolas por ano em cada um dos 5.568 municípios brasileiros e tirar dez milhões de brasileiros da miséria.
Diante da ousadia e irresponsabilidade dos corruptos, que estão nas mais diferentes esferas, é possível entender porque as coisas demorar tanto a acontecer no Brasil. E as razões de o País, em vez de progredir, insistir em repetir os mesmos erros. Por isso, é tão importante que as entidades participem e o maior número possível de pessoas ajude a decidir e a influenciar o presente e o futuro do seu território, diz o presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento Mário Costenaro, que quinta à noite fez palestra na Acic, em Cascavel, sobre Tempo e lugar de oportunidades.