BRASÍLIA – Um dos candidatos à sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o primeiro secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), lançou nesta quinta-feira uma etapa preliminar da construção de novo anexo da Câmara, orçado em R$ 320 milhões para ser construído em quatro anos. Trata-se, por enquanto, apenas de um buraco aberto no asfalto de um dos estacionamentos da Casa para testar o solo do local e, a partir das perfurações, ver até que profundidade a obra poderá avançar.
O anexo 4B, previsto para ficar pronto em 2020, foi o que restou do projeto do polêmico Parlashopping, estimado em R$ 1 bilhão e uma das principais bandeiras de Cunha, incluído como um jabuti numa Medida Provisória e que permitia à Câmara fazer uma Parceria Público Privada (PPP) para tocar a obra. O plano inicial era construir um complexo bilionário, com um prédio de dez andares para abrigar gabinetes de deputados, além de um edifício de três pisos, com cinco de garagem subterrânea, e um espaço que abrigaria lojas.
Após o recuo, em outubro do ano passado, por conta da crise econômica e críticas da opinião pública, a Mesa Diretora da Câmara decidiu tocar apenas a construção do novo anexo, que não contará com lojas no espaço. O novo anexo, previsto para ser construído em quatro anos, será um edifício horizontal de concreto armado, com três andares acima do solo, um pavimento inferior e seis subsolos de garagens. Além de gabinetes para os deputados, haverá um restaurante, uma lanchonete e um grande auditório onde parlamentares poderão realizar audiências. Quando ficar pronto, a ideia é que o prédio abrigue todos os gabinetes que hoje estão no anexo III.
CRISE ECONÔMICA
Essa primeira etapa, de perfuração do solo, deverá durar 50 dias e custar cerca de R$ 50 mil. Superada esta fase, a Câmara fará uma audiência pública para apresentar o projeto à sociedade. Só depois é que será aberto edital para licitação da obra. Apesar de feita por licitação, Beto Mansur não descarta adotar o modelo de PPP no futuro, para construção ou reforma de outros anexos.
Questionado se o gasto de dinheiro seria um sinal negativo para a sociedade, diante da crise econômica e medidas de ajuste fiscal, o deputado afirmou que esse era um pleito antigo da Câmara e que os dirigentes da Casa “têm a cabeça no lugar”.
? Nós precisamos construir, mas não quer dizer que a gente gaste os R$ 300 milhões agora, essa obra vai levar 4 anos e a gente tem que começar. Se a gente ficar pensando que tem crise, crise, crise, e há 30 anos se discute isso… a gente tem que começar. Lógico que quem for dirigir a Câmara… a gente tem a cabeça no lugar, não vamos ficar buscando dinheiro que não seja o exato da Câmara para fazer isso. Temos plena consciência da problemática que existe no Brasil hoje, mas não vamos pegar dinheiro destinado para questões sociais e colocar aqui ? disse o primeiro secretário.
Tido como um dos candidatos à Presidência da Câmara, caso Cunha seja cassado, o primeiro secretário negou ter usado o ato para fazer campanha.
? Não é isso, quando vimos que não teríamos sucesso com a PPP e todo esse empreendimento, a gente optou por fazer uma coisa menor e com o nosso dinheiro. Já contratamos há uma semana a empresa que está fazendo a análise do solo, mandamos os projetos para o GDF e já tem aprovação do escritório do Niemeyer, coisas muito definidas já. Não é uma coisa de agora, já trabalhando nisso ha muito tempo, até antes de o Eduardo ser afastado ? explicou.
O dinheiro que será usado vem da venda da folha de pagamento da Câmara, adquirida, em 2008, pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e que rendeu, na época, R$ 200 milhões ao Parlamento. Segundo Mansur, com o rendimento mais inflação, esse valor já estaria em cerca de R$ 400 milhões. As reservas da Casa estão nos cofres do Tesouro Nacional. O deputado contou ainda que já estão negociando nova venda da folha dos servidores da Casa, que deve expirar nos próximos meses.