BRASÍLIA – Pela terceira vez em menos de um ano, a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) voltou a pedir a substituição do atual diretor da Polícia Federal Leandro Daiello. Em oficio endereçado ao presidente Michel Temer, os sindicalistas reivindicam a troca do diretor por um dos nomes de uma lista tríplice escolhida numa eleição interna da categoria ano passado. Eles alegam que Daiello não tem dado o devido apoio à Operação Lava-Jato, está há muito tempo no cargo e não faz uma boa administração.
O pretexto da troca seria a mudança de comando no Ministério da Justiça. Com a indicação do advogado Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF), o novo ministro, ainda não escolhido, deveria aproveitar a oportunidade e renovar a direção da polícia, segundo a associação. A indicação do diretor-geral é de livre escolha do presidente da República e, pela tradição, ocorre a partir de uma sugestão do ministro da Justiça.
– Há uma vontade dos delegados, que não é de hoje, de promover a renovação da diretoria-geral da PF. Não é uma vontade minha, é uma vontade dos delegados. Nossa avaliação é que a gestão dele é ruim. Já está há seis anos no cargo, não tem projeto e não apóia devidamente as operações – afirma Carlos Eduardo Miguel Sobral, presidente da ADPF.
No ofício encaminhado a Temer, a associação argumenta que a proposta de troca de comando foi aprovada numa assembleia na sexta-feira passada e representaria a “vontade manifesta da ampla maioria” dos delegados. Policiais contrários à saída do diretor afirmam que o argumento é falso. Durante o encontro, 212 delegados votaram pelo afastamento de Daiello, 70 votaram contra. Ou seja, o número favorável a troca é inferior a um sexto dos mais de 1.300 delegados da instituição.
A ADPF tem criticado Daiello porque o diretor não estaria dando o devido suporte a grandes operações, especialmente a Lava-Jato. Desde o início das investigações, cinco delegados, entre eles Márcio Anselmo e Érika Marena, deixaram o caso. Em conversas reservadas, o delegado Igor Romário de Paula, o chefe das investigações em Curitiba, aponta interesse político e pessoal nas críticas da associação. Romário de Paula tem dito que todos os policiais que deixaram o caso o fizeram por vontade própria.
Aliados de Daiello dizem que não é verdade que falta apoio a Lava-Jato. A explicação é que o diretor-geral já até aumentou o Grupo de Trabalho responsável pelas investigações de políticos com foro no Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente para agilizar a apuração sobre os inquéritos a serem abertos a partir das delações dos executivos da Odebrecht. Daiello já teria garantido a preservação de todo o orçamento da Superintendência da PF no Paraná, base da Lava-Jato.
A repetição do pedido de afastamento do diretor-geral faz parte de um movimento da ADPF para pressionar o governo a aceitar a lista tríplice da associação. Para os delegados, se indicação por lista prevalece na escolha de procuradores e ministros não haveria porque ser diferente na Polícia Federal. A proposta não teve acolhida na gestão do governo anterior e não há indicativo de que a atual administração mude de ideia.