Típica das tribunas do Congresso, a fúria verbal atravessou definitivamente a Praça dos Três Poderes, andou mais um pouquinho e aterrissou na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Não é a primeira vez e nem será a última em que integrantes da Justiça Federal e do Ministério Público Federal trocam farpas. Mas, com a “disenteria verbal” propalada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o nível de zero a dez chega quase ao limite.
Diferentemente de outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que se manifestam somente ? ou principalmente ? nos autos, Gilmar Mendes tem procurado os holofotes diariamente desde que a crise política chegou ao seu último dos vários ápices recentes, com a nova lista de Janot baseada na delação da Odebrecht, aquela do “fim do mundo”.
Em guerra franca para defender seus próprios ideais, independentemente da liturgia do cargo e eventuais limitações regulatórias, Gilmar reuniu em sua casa, na semana passada, o presidente Michel Temer e políticos da base governista a fim de costurar um acordo para a reforma política.
Foi apenas uma de suas agendas, daquela vez sem holofotes. Diariamente, aparece em títulos de notícias, entrevistas de TV e áudios de rádio. Está em todas. Quanto maior a crise, mais ele fala. Seu último alvo, nesta quarta-feira, foi a PGR. Ou melhor, o PGR, Rodrigo Janot. Acusou a instituição de vazar investigações, fazer “chantagem”, cometer “crimes”. Papel, por sinal, de acusador e próprio do MP. Mas sem provas. Apenas opinião de ministro fora do Supremo.
Guardadas proporções, Janot também já teve suas incontinências verbais e não precisou abrir a boca para isso quando exibiu cartaz, há dois anos, com os dizeres “esperança do Brasil”, atitude que também não combina com seu cargo. A resposta desta quarta-feira a Gilmar, com direito a “mentes ociosas” e “decrepitude moral”, elevou de vez barra do esporte “salto com verbos”. Ele dobrou a aposta contra Gilmar, que tem o hábito curioso de usar dois relógios: um smartwatch no braço direito; outro analógico, no esquerdo.
Deve estar preocupado com o tempo das coisas. Ou preparando o próximo round